Arte e luta dos povos

Filipe Diniz

Passaram em 27 de Janeiro 80 anos sobre a derrota nazi no cerco de Leninegrado, 79 anos sobre a libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho. Duas faces do genocídio nazi-fascista.

Disse um general nazi que, com a Operação Barbarossa, a linha Baku-Stalingrado-Moscovo-Leninegrado se converteria numa «faixa em chamas na qual toda a vida é eliminada […] dizimando pela fome 30 milhões de russos».

Em Leninegrado os bombardeamentos mataram 17.000 civis, 632.000 morreram de fome e de frio (Nuremberga). No total, mais de 1 milhão de mortos (2022). «No cerco de Leninegrado morreram mais civis que no conjunto dos infernos de Hamburgo, Dresden, Tóquio, Hiroshima e Nagasáqui». Uma heróica resistência militar e humana em condições inimagináveis.

Nessa resistência humana, um dos mais poderosos e sublimes momentos da história da música: a composição e estreia da 7ª Sinfonia de Shostakovich, Ленинградская (Leningradskaiá). Composta entre Julho (Leninegrado) e Dezembro (Kuybyshev) de 1941, é decidido estreá-la em Leninegrado em 1942. No auge de um implacável cerco que durou 872 dias.

De 40 membros da Orquestra da Rádio de Leninegrado apenas 15 permaneciam na cidade. Uns mortos, outros combatendo na frente. O maestro Karl Eliasberg era levado de maca para os ensaios, que raramente duravam meia-hora. A orquestra apenas uma vez conseguiu ensaiar a obra completa. Na estreia, cadeiras vazias marcavam a ausência de músicos mortos durante os meses de ensaio.

A estreia, a 9 de Agosto de 1942, um espantoso acontecimento. Transmitida por altifalantes em todo o perímetro da cidade, «deu enorme ânimo aos russos, disse aos alemães que nunca se renderiam». «Naquele momento triunfámos sobre a desalmada máquina de guerra nazi», disse Eliasberg.

Ecos nos dias de hoje? Muitos. E uma lição permanente: se a luta de um povo consegue incorporar o melhor da criação humana, será seguramente invencível.

 



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