Publicidade enganosa

João Frazão

Depois de, em 6 de Setembro de 2023, o deputado do PS, vice-presidente do respectivo Grupo Parlamentar, membro da Comissão Política do seu partido e Secretário-Geral da JS, ter garantido que, e cito, «a propina acabou em Portugal», pedindo mesmo para que se espalhasse a notícia, o mesmo dirigente apresentou no congresso do PS, apenas 4 meses depois, uma moção que incluía a ideia de o PS defender a propina zero.

Estamos seguros que o leitor terá a mesma dificuldade que nós em perceber a razão de se propor reduzir a zero uma coisa que já não existe.

Mas ficamos ainda mais baralhados quando um dos maiores grupos económicos do País, geralmente bem informado, lançou uma publicidade a equiparar as propinas de um filho, ao valor de um carro ou mesmo de uma casa.

«Vim pagar as propinas do meu filho», diz, representando uma imagem de fecunda felicidade o personagem do anúncio, acrescentando «que pode pagar já as do mestrado e do doutoramento», uma vez que terá, num cartão, 100 mil euros.

Brincadeiras à parte, a defesa, ou não, do fim das propinas, e não apenas o advogar do seu congelamento, de medidas avulsas com vista à devolução, a alguns estudantes e a prazo, do seu valor, ou mesmo a sua fixação, neste momento, a zeros, marca a diferença entre os que querem de facto uma política de esquerda, ancorada nos valores de Abril, para cumprir a Constituição, e os que ensaiam discursos e promessas à esquerda para, na primeira oportunidade os traírem, dando corda à política de direita.

E, já contando que, nesta campanha eleitoral, tal como em relação ao fim das portagens, ao respeito pelos direitos dos professores ou à valorização das carreiras e salários dos profissionais do SNS, vamos ouvir o novo Secretário-Geral do PS prometer mundos e fundos quanto às propinas, desde já se adianta a pergunta que não pode calar, para quem lha queira fazer. Por que razão, tendo o PS, nos últimos dois anos, maioria absoluta, e como está evidente, tendo os meios para o fazer, não aprovou o fim verdadeiro das propinas.

Eu adianto a minha resposta. Não aprovou, por sua iniciativa ou votando favoravelmente as muitas vezes que o PCP o propôs na Assembleia da República, porque não quis.

E não venham queixar-se de os equipararmos ao PSD, que aqui nem se falou disso.

Tudo o resto é publicidade enganosa.

 



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