Os EUA nunca bombardeiam países
Os Estados Unidos, Israel, o Reino Unido, a NATO, nunca bombardeiam. Fazem ataques estratégicos, cirúrgicos e preventivos. As bombas nunca acertam em países nem em pessoas. Atingem talibans, o Hamas ou houtis.
Os cidadãos americanos, israelitas ou de países da União Europeia são assassinados. Os outros limitam-se a morrer. Ou nem isso.
As palavras têm cada uma o seu peso próprio. As línguas têm, felizmente, muitos recursos para que os seres humanos possam exprimir pensamentos, emoções, conhecimentos. A língua portuguesa não é excepção e até há quem diga que é especialmente rica. Não é pois por falta de vocabulário que as notícias se repetem, usando as mesmas palavras estudadas para cada ocasião.
Usar palavras que desumanizam as vítimas da guerra, da fome, das doenças evitáveis, da violência, não é inocente. A semântica não é inocente. Na pressa das redacções – de que por estes dias, a propósito do Congresso dos Jornalistas, ficámos a conhecer melhor as dificuldades – aplica-se mal muitas palavras. Repete-se comunicados de imprensa, declarações e pontos de vista de quem bombardeou, de quem ocupa, dos poderosos. Partilha-se vídeos de exércitos e embaixadas, sem questionar. Emitidos no momento em que os interesses da guerra determinam que devem ser emitidos, estão em milésimos de segundo nos telemóveis, nos computadores e nas televisões de milhões de pessoas. A forma como conseguem determinar e manipular à escala de massas é impressionante.
Mas não é menos impressionante a capacidade que os povos têm de questionar, resistir, ser solidários, lutar. Apesar de todo o poderio das armas, do discurso mediático, da ideologia do salve-se quem puder, do discurso sobre a superioridade do «ocidente alargado», do «nós-civilizados» contra um «eles-selvagens», milhões de pessoas em todo o mundo lutam pela paz e por valores humanistas. E é nelas que está o futuro.