Guerra no Sudão ameaça paz regional
Vinte e cinco milhões de pessoas no Sudão precisam de ajuda humanitária em 2024, advertiu a Organização das Nações Unidas, avisando que a intensificação da guerra civil naquele país impede os esforços para socorrer as populações.
Martin Griffiths, responsável da ONU para assuntos humanitários, alertou que a crítica situação sudanesa exige uma intervenção internacional urgente.
Os cálculos mais recentes indicam que o conflito provocou, em cerca de nove meses, 10 mil mortos, um número indeterminado de feridos e sete milhões de deslocados, uma parte dos quais refugiados em países vizinhos.
O conflito armado, que teve início a 15 de Abril do ano findo e estendeu-se de Cartum a todo o Sudão, opõe tropas regulares do exército, chefiadas pelo general Abdel Fattah al-Burhan, até então presidente da junta militar no poder, e milícias da Força de Intervenção Rápida, lideradas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo.
Os dois generais, antigos parceiros à frente do governo militar sudanês, gozam de diversos apoios africanos, árabes e outros. Países vizinhos, ONU, União Africana e diferentes mediadores, como os EUA e a Arábia Saudita, têm procurado, até agora em vão, aproximar as duas partes, conseguir um cessar-fogo e encontrar uma solução através de negociações.
Em finais de Dezembro, foi anunciado um encontro entre os dois ex-aliados, negociado pela Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), uma organização regional de países da África Oriental. A reunião não se realizou e, mais recentemente, al-Burhan acabou com as expectativas de se chegar à paz através de conversações quando declarou, a partir de uma base no leste do país, que rejeita negociar com o seu antigo vice-presidente por este ser responsável por crimes de lesa-humanidade na região de Darfur Ocidental e noutras zonas sob seu controlo. Garantiu que a conduta das milícias inimigas «tornam inaceitável qualquer reconciliação ou acordo».
Do seu lado, Dagalo realizou por estes dias uma ofensiva diplomática por África, deslocando-se às capitais do Ruanda, Uganda, Etiópia, Djibuti, Quénia e África do Sul, onde informou os respectivos chefes de Estado sobre a situação sudanesa, do seu ponto de vista.
País com um historial contemporâneo de golpes de Estado, massacres, guerras e secessões, mas também de lutas populares, o Sudão, próximo do Corno de África e com saída para o Mar Vermelho, vive em crise desde há anos. Em finais de 2018, a subida de preços do pão esteve na raiz de grandes manifestações e revoltas populares – a Revolução de Dezembro –, que provocaram, em Abril do ano seguinte, a queda do então presidente, Omar al-Bachir, e a tomada do poder pelos militares. Desde então, uma junta de generais, com al-Burhan e Dagalo à cabeça, dirigiu o país. Em Outubro de 2021, os militares levaram a cabo um novo golpe de Estado e, apoiados pelo Ocidente, recusaram-se a transferir o poder para os civis, reprimindo ferozmente comunistas e outras forças progressistas que lutavam – e continuam a lutar – por um Sudão democrático e pacífico.
Hoje, quase «esquecida» pelos grandes meios de informação internacionais, a guerra civil sudanesa, alimentada do exterior, ameaça eternizar-se e, além dos milhões de vítimas que origina, faz perigar a paz em toda a África Oriental.