Massacre e colonização prosseguem na Palestina

Cem dias depois do início da agressão de Israel contra a Faixa de Gaza, o balanço é de mais de 23 mil mortos e 58 mil feridos palestinianos. Mais de quatro por cento dos habitantes do território foram mortos ou feridos e 70 por cento das infra-estruturas foram destruídas.

Israel usa a fome como arma de guerra contra os palestinianos

O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU para a Palestina confirmou, na terça-feira, 9, num relatório que actualiza a situação na Faixa de Gaza, a intensificação dos ataques e o impacto das operações israelitas contra Khan Yunis, no sul do território, que provocam «um rápido aumento de vítimas».

No mesmo dia, uma organização não-governamental denunciou que 2,2 milhões de palestinianos na Faixa de Gaza sofrem de profundas carências alimentares como resultado directo da política israelita de privá-los de alimentos.

O Centro de Informação Israelita para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados (B’Tselem) revelou que os habitantes do território passam dias sem comer quase nada. «A procura desesperada de alimentos não cessa um momento, embora na maioria dos casos seja infrutífera, o que deixa a população à fome, incluindo bebés, crianças, mulheres grávidas ou lactantes e idosos», destacou.

Os habitantes de Gaza dependem agora inteiramente da ajuda do exterior, porque a maioria dos campos cultivados foram destruídos, as fábricas e armazéns danificados ou fechados por falta de produtos, combustível e electricidade. Perante tal catástrofe, os israelitas não autorizam a entrada de alimentos suficientes e o resultado é dramático. A B’Tselem recorda que «usar a fome como arma de guerra é proibido».


Sem precedentes

O embaixador palestiniano na ONU, Ryad Mansour, qualificou a agressão de Israel a Gaza como um ataque sem precedentes. Falando na Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, 9, o diplomata considerou o conflito em curso como uma guerra de atrocidades.

«Represento um povo massacrado, com famílias assassinadas na sua totalidade, homens e mulheres fuzilados nas ruas, milhares de pessoas sequestradas, torturadas, humilhadas, crianças assassinadas, amputadas, órfãos, marcados para toda a vida», disse. O diplomata repudiou o veto dos EUA no Conselho de Segurança perante as propostas para o fim do conflito e a atitude de Israel de alegar «direito à defesa» como pretexto para o massacre em curso na Faixa de Gaza.

O ataque contra os palestinianos demonstra quão vital é aprovar um cessar-fogo imediato como «única posição moral, legítima e responsável», assinalou.


Crimes na Cisjordânia

O Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano denunciou as sistemáticas violações israelitas na Cisjordânia, numa tentativa de copiar a estratégia que utiliza na Faixa de Gaza. Alertou para as consequências dos crimes cometidos por militares e colonos israelitas na Margem Ocidental. Entre elas, citou o incremento e ampliação dos colonatos ilegais, o roubo de mais terras a cidadãos palestinianos, a expulsão de populações e os planos de colonização da zona. Referiu também as execuções extrajudiciais e a destruição de infraestruturas.

Os projectos de Telavive prevêem desmembrar a Cisjordânia e convertê-la em cantões isolados mediante a construção de mais barreiras e controlos militares. As autoridades palestinianas condenaram a aprovação de novos planos para ampliar a colonização na Cisjordânia.


Contra a guerra

Milhares de israelitas manifestaram-se, no sábado, 6, em Telavive, Haifa, Jerusalém, Kfar Sava, Cesareia e noutras cidades. Protestaram contra a guerra em Gaza e contra o governo israelita de extrema-direita, exigindo a demissão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a dissolução do parlamento e eleições antecipadas.

A maior manifestação ocorreu na capital, na Praça Habima, com a presença de cerca de 20 mil pessoas. Entre os manifestantes, condenando a guerra, estavam membros do Partido Comunista de Israel e o deputado Ofer Cassif, do Hadash (Frente Democrática de Paz e Igualdade, com representação parlamentar).

Cassif enfrenta no parlamento uma ameaça de «punição»: 70 deputados subscreveram uma moção pedindo a sua expulsão por ter apoiado a queixa apresentada pela África do Sul ao Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, acusando Israel de genocídio em Gaza (já apoiada igualmente, no plano internacional, por países como a Bolívia e a Venezuela).

Sobre a ameaça, Cassif afirmou: «O meu dever constitucional é com a sociedade de Israel e todos os seus habitantes, não com um governo cujos membros apelam à limpeza étnica e mesmo ao genocídio». E garantiu: «Eu não desistirei da luta pela nossa existência como uma sociedade moral. Isso é o verdadeiro patriotismo – não as guerras de vingança e os apelos à destruição, não o desnecessário derramamento de sangue, não o sacrifício de civis e soldados em guerras fúteis».


Domingo em Lisboa e dia 24 no Porto: «Paz no Médio Oriente, Palestina independente»

CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído – Associação Juvenil voltam às ruas de Lisboa, no próximo domingo, para exigir o fim do massacre na Faixa de Gaza e o respeito pelos legítimos direitos do povo palestiniano. Com eles estarão já muitas outras associações e entidades, que entretanto se associaram à convocatória.

A concentração está marcada para as 15h00, em Sete Rios, com manifestação entre a embaixada dos EUA e a embaixada de Israel. No apelo à participação denuncia-se a «criminosa e cruel violação de qualquer princípio humanitário por parte de Israel» e a «hipocrisia e cumplicidade daqueles que tudo fazem para branquear e permitir que a chacina continue».

Um cessar-fogo imediato e permanente, a garantia de ajuda humanitária e reconstrução da Faixa de Gaza, o fim da violência na Cisjordânia e de 17 anos de desumano cerco à Faixa de Gaza e a libertação de todos os detidos são reivindicações urgentes. Será também exigida a criação de um Estado Palestiniano «soberano e independente, com controlo soberano das suas fronteiras e recursos».

Para quarta-feira, 24, está já convocada para as 18h00 uma concentração na Praceta da Palestina, no Porto, com os mesmos objectivos.

 



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