Tropas francesas deixaram o Níger

Carlos Lopes Pereira

Os derradeiros militares franceses no Níger saíram há dias do país africano, em resultado da deterioração das relações entre Niamey e Paris após o golpe de 26 de Julho deste ano que destituiu o presidente Mohamed Bazoum. Este fiel aliado da França e do Ocidente foi acusado de «inépcia» e de ser responsável pela «contínua deterioração da segurança» e «má governação económica e social» do Níger.

Com uma base aérea militar em Niamey, utilizada juntamente com os Estados Unidos da América, a França reforçara a sua presença na antiga colónia com mais 1500 soldados envolvidos na operação Barkhane, lançada há uma década com o pretexto de combater os grupos «terroristas» na zona do Sahel.

A Barkhane não apresentou resultados benéficos para o povo nigerino e, ao contrário, estendeu a diversas zonas do território a guerra e os seus horrores. O mesmo já tinha acontecido no Mali e no Burkina Faso, de onde as forças expedicionárias francesas foram também expulsas, acusadas não só de não combater o terrorismo como até de o promover.

Desde que passaram a controlar o poder, as novas autoridades nigerinas tinham pedido a retirada das tropas de França, acusando-a de ingerência nos assuntos internos e de ter como único interesse o domínio das riquezas naturais do país, em especial o urânio, explorado por multinacionais francesas para abastecer a indústria nuclear europeia, sem benefícios para o povo nigerino e o desenvolvimento do seu país.

Após o golpe de força no Níger e com a habitual arrogância neocolonialista, a França recusou-se num primeiro momento a retirar as tropas do país africano e chegou a ameaçar intervir militarmente para repor no poder Bazoum e restabelecer a «ordem constitucional». Mas, perante a firmeza dos povos nigerino, maliano e burquinense, aliados, lá ordenou o regresso a casa dos seus soldados, «de maneira coordenada e totalmente segura», e também dos seus diplomatas, de igual modo declarados indesejáveis. Em retaliação, Paris mandou encerrar a sua embaixada em Niamey.

Os perigos para o Níger, «castigado» por ter optado por uma via de desenvolvimento soberano, não desapareceram. Em declarações recentes à agência noticiosa Sputnik, o primeiro-ministro nigerino, Lamine Zeine, não descartou a possibilidade de uma intervenção militar estrangeira contra o seu país, mas advertiu que, em tal caso, as forças armadas nigerinas, experientes, estão preparadas para repelir qualquer agressão. «Se algum Estado decidir atacar-nos, defender-nos-emos», garantiu.

O chefe do governo de transição nigerino revelou que o Níger está aberto a retomar a cooperação com a União Europeia, mas «desta vez com base no respeito mútuo». Em princípios de Dezembro, Niamey rescindiu o acordo que regulava a cooperação militar com Bruxelas. E, agora, na véspera do Natal, anunciou a suspensão de toda a cooperação com a Organização Internacional da Francofonia (OIF), que conta com 88 membros.

Essa organização «foi sempre utilizada pela França como um instrumento para defender os interesses franceses», denunciou um porta-voz nigerino. E instou os povos africanos a levar a cabo «uma descolonização dos espíritos» e a promover «as suas próprias línguas nacionais, de acordo com os ideais dos pais fundadores do pan-africanismo».

 



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