A fórmula (i)moral

Anabela Fino

O mundo está à beira de as­sistir a uma de­por­tação em massa de pa­les­ti­ni­anos, uma se­gunda ter­rível Nakba (ex­pulsão mas­siva de pa­les­ti­ni­anos da Pa­les­tina aquando da cri­ação de Is­rael, em 1948), gra­vada a sangue pelo as­sas­si­nato de de­zenas de mi­lhares de civis, na sua mai­oria cri­anças e mu­lheres.

O de­sastre anun­ciado consta do novo plano con­junto dos EUA e de Is­rael agora vindo a lume sobre o «fu­turo» a dar à po­pu­lação de Gaza que so­bre­viver aos bom­bar­de­a­mentos is­ra­e­litas: des­lo­cação for­çada para a Tur­quia, Egipto, Iraque e Iémen, e já não apenas para o de­serto do Sinai, como Is­rael ini­ci­al­mente pre­tendia, para que o Egipto não seja o único a su­portar o «fardo».

A dis­tri­buição já está feita: um mi­lhão de pa­les­ti­ni­anos para o Egipto, meio mi­lhão para a Tur­quia, 250 000 para o Iraque e ou­tros tantos para o Iémen. Os quatro países serão vo­lun­ta­ri­a­mente obri­gados a re­ceber o «fardo», sob pena de so­frerem as con­sequên­cias das«pres­sões» de Washington. Se­gundo Joe Wilson, um dos au­tores do plano, ci­tado pelo In­ves­tig'Ac­tion, a «única forma moral [de re­solver o pro­blema de Gaza] é as­se­gurar que o Egipto abra as suas fron­teiras» para que Is­rael possa es­coar à bomba os pa­les­ti­ni­anos.

Apre­sen­tado a per­so­na­li­dades chave da Câ­mara dos re­pre­sen­tantes e do Con­gresso dos EUA, o plano tem o apoio de de­mo­cratas e re­pu­bli­canos, que vêem neste crime contra a hu­ma­ni­dade, nesta lim­peza ét­nica, a fór­mula «moral e hu­ma­nitária» de li­darem com a questão pa­les­ti­niana. «Is­rael deve en­co­rajar a co­mu­ni­dade in­ter­na­ci­onal a en­con­trar so­lu­ções, os meios cor­rectos, mo­rais e hu­manos para a reins­ta­lação (sic) da po­pu­lação de Gaza», dizem.

A re­tó­rica já não es­conde as mãos sujas de sangue dos al­gozes do povo pa­les­ti­niano, a quem só resta um ca­minho: contra a opressão toda a re­sis­tência é le­gí­tima.




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