Guiné-Bissau, um país adiado

Carlos Lopes Pereira

A luta independentista do povo da Guiné-Bissau é exemplar em África.

Resistiu durante anos à ocupação colonial decidida pelas potências europeias na Conferência de Berlim (1884/85). Apenas em 1936 as autoridades coloniais portuguesas consideraram toda a Guiné «pacificada».

Duas décadas depois, num clima favorável à emancipação dos povos gerado pelo triunfo da URSS e aliados sobre o nazi-fascismo na II Guerra Mundial, Amílcar Cabral e outros patriotas guineenses e cabo-verdianos fundaram clandestinamente em Bissau o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Perante a obstinada recusa da ditadura fascista e colonialista de resolver pacificamente, através de negociação, o conflito que opunha as classes dirigentes de Portugal aos povos das colónias, o combate emancipador avançou e assumiu na Guiné a forma de luta armada a partir de 1963, tal como já ocorrera em Angola desde 1961 e aconteceria em Moçambique a partir de 1964.

Resultado dos progressos da luta contra a dominação colonial, o povo guineense proclamou o Estado da Guiné-Bissau, em 24 de Setembro de 1973, ainda em plena guerra emancipadora e apesar do vil assassinato de Amílcar Cabral oito meses antes. A vitória política e militar dos guerrilheiros sobre o exército colonial, armado pela NATO e pela África do Sul do apartheid, muito contribuiu para o derrubamento da ditadura fascista e a emergência de Abril em Portugal e para a liquidação do colonialismo português.

Com o fim da guerra, o governo da Guiné-Bissau, dirigido pelo PAIGC, iniciou a reconstrução do país, procurando ultrapassar as dificuldades herdadas de décadas de dominação estrangeira, lançar as bases do desenvolvimento, edificar um Estado moderno, continuar a forjar a nação.

Em finais de 1980, a ganância e a ambição de alguns, poucos, interromperam com um golpe de Estado esse processo de consolidação da independência da Guiné-Bissau. Mais: puseram fim ao projecto de unidade com Cabo Verde, empurraram o país para um caminho de lutas fratricidas – incluindo uma guerra civil –, assassinatos ou espancamentos de dirigentes políticos, aprofundamento de contradições étnicas e religiosas, sucessivos golpes de força, corrupção, tráficos de pessoas, armas e drogas, encerramento ou censura dos meios de comunicação, repressão violenta de manifestações pacíficas. O país foi então considerado um «Estado falhado».

Desde há alguns anos, a «comunidade internacional» impõe eleições «livres» na Guiné-Bissau a troco da continuação das «ajudas». Mas, nas últimas duas legislativas, o PAIGC, apesar de ter sido o vencedor com ampla maioria, foi pelo presidente da República e pelas forças armadas impedido de governar o país.

Nessa linha, a situação na Guiné-Bissau é hoje complexa: com o Estado capturado por uma minoria, inventou-se uma «tentativa de golpe», dissolveu-se o parlamento, mudou-se o governo, adiou-se indefinidamente a marcação de eleições, tenta-se instaurar a ditadura – perante o silêncio cúmplice dos países «democráticos», africanos e outros.

Apesar de tudo, as forças progressistas e patrióticas da Guiné-Bissau, o seu povo valente e generoso, saberão cedo ou tarde superar os obstáculos do presente e retomar a caminhada rumo a uma sociedade pacífica e próspera.



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