Milhares em Lisboa exigem fim imediato do massacre na Palestina

Milhares de pessoas participaram no dia 8, em Lisboa, em mais uma grande manifestação pela paz no Médio Oriente e por uma Palestina independente. A solidariedade continua até que cesse o massacre e a Palestina seja livre.

«Libertar a Palestina, acabar com a chacina» foi uma das palavras de ordem

No percurso entre o Martim Moniz e o Largo José Saramago seguiram milhares: de diferentes idades e nacionalidades, integrados ou não em organizações. Em faixas, cartazes e palavras de ordem mostravam ao que iam: Pela paz! Não à escalada de guerra; Fim à ocupação; Libertar a Palestina, acabar com a chacina!; Gaza, escuta, gritamos a tua luta!; Fim à impunidade de Israel. Num cartaz improvisado, marcador sobre cartão, alguém questionava: «Vais dizer aos teus bisnetos que ignorámos um genocídio?»

Atrás da ampla faixa que encabeçava o desfile, onde estava inscrito o lema «Paz no Médio Oriente, Palestina independente» e assinalados os seus promotores (CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído – Associação Juvenil), seguiam muitas outras, de diferentes organizações e semelhantes reivindicações: o CPPC, o MPPM, o movimento sindical, a URAP, o MDM, os professores, os trabalhadores da cultura. Os Pioneiros de Portugal lembravam que «todas as crianças têm direito à paz». Os «Judeus pela Paz e a Justiça» reafirmavam que o massacre em Gaza não era cometido em seu nome.

Saudando a manifestação, integrado numa delegação do PCP, Paulo Raimundo considerou inaceitável que, «com a conivência dos EUA e da União Europeia, Israel continue alimentando a guerra contra a Palestina». E reafirmou a urgência de «parar a agressão, promover a paz entre os povos e, finalmente, o reconhecimento do Estado da Palestina, proporcionando a dignidade que este povo merece há gerações».

Já no Largo José Saramago, os jovens Pedro Henriques e Mariana Cal apresentaram os oradores (ver caixa) e apresentaram o projecto de arte experimental que se desenvolvia mesmo ali ao lado, promovido pelo colectivo Besieged but not Silenced (cercados mas não silenciados, em português).

No dia 19, às 18h00, há cordão humano no Porto, do largo da estação de Metro da Trindade à Avenida dos Aliados.

 

Ouvido em Lisboa

«Israel mantém esta política com o apoio dos Estados Unidos, da União Europeia e da NATO, que têm alimentado a máquina de guerra israelita, fornecendo armas, munições e apoio diplomático. São milhares de milhões os lucros que o capital rapina com a chacina e a guerra. (…) O curto cessar-fogo, quebrado pelas bombas de Israel, mostra que só calando as armas se poderá libertar os presos, tanto na Faixa de Gaza como nas prisões israelitas, e assim pôr fim à violência.»

Isabel Camarinha, CGTP-IN

 

«Por que se mantém este horror de bombardeamentos na Faixa de Gaza, a destruição de escolas, hospitais, campos de refugiados e todas as infraestruturas e equipamentos essenciais à vida humana, se priva de água, alimentos e cuidados médicos cerca de 2 milhões de pessoas cercadas e deslocadas, com 17 mil mortos, em apenas dois meses, incluindo muitos milhares de crianças palestinianas, trabalhadores da ONU, jornalistas, médicos? (…) Porque desde a resolução da ONU que, há 75 anos, criou os dois Estados – Israel e Palestina – apenas concretizaram o Estado de Israel e ignoraram a criação do Estado da Palestina.»

Ilda Figueiredo, CPPC

 

«É já insuportável o cinismo, a mais absoluta ausência de empatia com o sofrimento humano dos que, nas televisões, nos explicam diariamente as tecnicalidades da carnificina. Esgotou-se a paciência para efabulações sobre guerras quando aquilo a que assistimos é um genocídio. Não se aguenta mais o ridículo dos que, travestidos de jornalistas, repetem sem cessar a propaganda de Israel. Hoje, são mais de 17 mil o número de vítimas mortais registadas e muitas mais estarão sob os escombros dos edifícios arrasados. Muitas famílias simplesmente apagadas da existência.»

Carlos Almeida, MPPM

 

«Em Gaza, têm sido 63 dias de inferno em cima de 17 anos de cerco, de vida numa prisão a céu aberto. Na Palestina, têm sido 63 dias de inferno, em cima de 56 anos de ocupação, de apartheid, em cima de 75 anos de limpeza étnica, de Nakba. 75 anos de Catástrofe em cima de 106 anos de um projeto colonial em curso. Sim, temos de ir tão longe para perceber o que está a acontecer na Palestina, não apenas para ver a dimensão verdadeira da agressão contra gerações e gerações de palestinianos, mas também para ver a verdadeira resiliência do povo palestiniano.»

Dima Mohamed, professora palestiniana residente em Portugal

 

«Os profissionais de saúde de todo o mundo unem-se em torno dos princípios éticos que nos regem. À luz do princípio da beneficência e da não maleficência, é inconcebível que o governo de Israel, com a complacência de outros governos do mundo, imponha: a fome, a sede; cirurgias sem apoio anestésico; crianças feridas sem acesso a analgesia; suspensão de suporte de vida por falta de electricidade, nomeadamente nos doentes críticos em Al-Shifa que tiveram de ser desconectados dos ventiladores que os mantinham a respirar, provocando a morte num sofrimento atroz.»

Margarida Brissos, profissional de Saúde

 

«Nos últimos meses, quase 70 jornalistas e trabalhadores dos media foram mortos pelas forças israelitas. (…) As Forças Armadas sionistas dizem formalmente que “os jornalistas não são o nosso alvo.” Da mesma maneira que dizem: “os civis não são o nosso alvo”. Mas em Gaza, tanto os civis, como os jornalistas são um alvo sob ameaça de morte permanente. (…) E, no entanto, também em Portugal, alguns ditos jornalistas participam activamente no silenciamento e menorização: das mortes de verdadeiros jornalistas em Gaza. E da luta que cá se faz contra esse massacre.»

Raquel Ribeiro, jornalista e investigadora

 

«Terminar esta manifestação aqui, no Largo José Saramago, em frente à sede da Fundação, tem um enorme significado. Porque, se houve trabalhador da cultura comprometido, corajoso e solidário, José Saramago foi um deles, e disse assim: “O objecto imediato desta manifestação é a acção militar indiscriminada, criminosa e atentatória de todos os direitos humanos básicos, desenvolvida pelo governo de Israel contra a população de Gaza”. Era o dia 11 de Janeiro de 2009, passaram 14 anos, podia ser hoje.»

Idália Tiago, Fundação José Saramago




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