«Os nossos corações batem em uníssono…»
Líder revolucionário que organizou e dirigiu a luta vitoriosa de libertação nacional dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, Amílcar Cabral, cujo centenário é assinalado no próximo ano, foi um ardente patriota e convicto internacionalista.
Patriota, dedicou-se por completo à luta pela independência e emancipação dos povos guineense e cabo-verdiano, lançando os alicerces das duas nações e da construção dos seus primeiros Estados. Internacionalista, participou em Portugal, ombro a ombro com comunistas e outros democratas, nos combates contra o colonial-fascismo e contribuiu de forma decisiva com a sua luta para a derrota e liquidação do colonialismo português, para o derrube da ditadura fascista e para as transformações históricas que se seguiram.
«Consideramo-nos profundamente comprometidos com o nosso povo e comprometidos com qualquer causa justa no mundo», proclamava Amílcar Cabral na II Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, em Outubro de 1965, em Dar-es-Salam. E assegurava que os membros da CONCP – a FRELIMO, de Moçambique, o MPLA, de Angola, o PAIGC, da Guiné e Cabo Verde, e o CLSTP, de São Tomé e Príncipe – eram inteiramente solidários com todas as causas justas. Por isso, dizia, «os nossos corações batem em uníssono com os corações dos irmãos do Vietname, que dão um exemplo singular de como se pode fazer face à mais vergonhosa, à mais injustificável agressão dos imperialistas dos Estados Unidos da América contra o povo pacífico do Vietname». E mais: «Os nossos corações batem igualmente com os nossos irmãos de Cuba, que também mostraram que um povo, mesmo quando cercado pelo mar, é capaz de defender, de armas na mão, e vitoriosamente, os seus interesses fundamentais e de decidir ele mesmo do seu destino».
Nessa intervenção, em meados dos anos 60, enumerando as causas justas no mundo, Amílcar Cabral antecipava o futuro: «Estamos de uma forma muito racional e muito dolorosa com os nossos irmãos da África do Sul, que enfrentam a mais bárbara das discriminações raciais. Estamos absolutamente certos de que o desenvolvimento da luta nas colónias portuguesas e a vitória que estamos a alcançar diariamente contra o colonialismo português são uma contribuição eficaz para a liquidação do vergonhoso, do vil regime de discriminação racial, do apartheid na África do Sul. E estamos também certos de que os povos, como os de Angola e Moçambique, e nós mesmos na Guiné e em Cabo Verde, longe da África do Sul, poderemos desempenhar, amanhã, um amanhã que, esperamos, não esteja longe, um papel muito importante para a liquidação final do último bastião do colonialismo, do imperialismo e do racismo em África, que se encontra na África do Sul».
E, claro, entre as causas justas com as quais a CONCP se solidarizava, figurava a da Palestina: «Estamos com os refugiados, os refugiados martirizados da Palestina, que foram injuriados, expulsos da sua pátria pelas manobras do imperialismo. Estamos ao lado dos refugiados da Palestina e apoiamos com toda a força dos nossos corações tudo o que os filhos da Palestina fazem para libertar o seu país e apoiamos com todas as forças os países árabes e os países africanos em geral para auxiliar o povo palestiniano para recuperar a sua dignidade, a sua independência e o seu direito à vida».