São cada vez mais os que exigem Fim ao massacre, Palestina independente
A exigência de paz no Médio Oriente e a solidariedade com a Palestina continuam a percorrer o País e o mundo: travar o massacre e garantir os direitos do povo palestiniano à vida, desde logo, mas também à paz, à liberdade e à soberania são exigências que se fazem ouvir bem alto, mais ainda do que o som brutal dos bombardeamentos e os lamentos de quem perdeu filhos, irmãos, pais e amigos.
Mais de 10 mil mortos e 24 mil feridos palestinianos num mês de agressão israelita
Mais de um milhar de pessoas desfilou no domingo, 5, entre a Praceta da Palestina e a Praça D. João IV, no Porto, exigindo o fim do massacre da população da Palestina: «Paz sim, guerra não», «Paz no Médio Oriente, Palestina Independente» e «Gaza não é prisão, massacre e cerco não!», ouviu-se e leu-se durante o percurso.
Eram muitos os cartazes com a bandeira da Palestina, ilustrando-se em alguns o vermelho que escorria simbolizando o sangue derramado. Com o mesmo motivo visual muitas eram as mãos pintadas de vermelho vivo bem levantadas. Logo no início, uma enorme bandeira – de vinte metros – foi carregada por manifestantes ao longo do percurso, e que foi, já no final, pendurada num varandim.
Dezenas de mulheres do MDM juntaram-se em cordão humano, unidas por uma corda onde, com cartazes, denunciavam a morte de uma criança a cada 10 minutos, o bombardeamento por Israel de ambulâncias e os bebés vítimas deste massacre. Entre os cartazes surgiam roupas de bebé e sapatinhos, para que ninguém se esqueça do significado da tragédia. CPPC, MPPM e Projecto Ruído – Associação Juvenil tinham as suas próprias faixas, com apelos à paz e à independência da Palestina.
Chegados à Praça D. João IV, os manifestantes ouviram as intervenções. Tiago Oliveira, da CGTP-IN, reiterou a solidariedade «com um povo que não se rende e não desiste de lutar pelo seu direito inalienável a um estado independente e soberano» e José António Gomes, do MPPM, reafirmou a exigência da retirada das tropas de Israel do território palestiniano, um cessar-fogo imediato e o fim do terrorismo militar em Gaza e em toda a Palestina. O historiador Manuel Loff, um dos promotores do manifesto de solidariedade com a Palestina, rejeitou que se esteja perante um conflito entre o Hamas e o Estado de Israel, mas sim uma «guerra de ocupação», e garantiu que Marcelo Rebelo de Sousa não tem razão ao dizer ao representante diplomático da Palestina que «desta vez, quem começou foram vocês».
A estudante palestiniana Nur Latif chamou a atenção para as escandalosas declarações do ministro do Património Israelita, Amichay Eliyahu, segundo o qual «uma das opções de guerra seria uma bomba nuclear na faixa de Gaza». E lembrou que Israel mata quatro civis palestinianos por minuto e seis crianças por hora, «lança mil toneladas de bombas por dia em Gaza, 25 mil toneladas até hoje» e tem usado fósforo branco. Tudo, garantiu, com o apoio dos EUA.
Já Ilda Figueiredo, do CPPC, apresentou uma moção onde se exige «o fim imediato dos bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza e do massacre dos seus habitantes» e se reafirma a continuação da luta pela paz e em defesa da Palestina e do povo palestiniano.
A manifestação terminou com duas músicas revolucionárias palestinianas, escolhidas por Nur Latiff, às quais se seguiu também a audição de Grândola, Vila Morena, num momento de grande emoção que juntou portugueses, árabes de várias proveniências e outras nacionalidades, de braço dado por um mundo de paz e solidário.
«Bandeiras pela Paz» em Lisboa
Uma bandeira por cada palestiniano morto por Israel na Faixa de Gaza desde 7 de Outubro, uma bandeira de resistência e de luta: foi este o ponto de partida para a colocação no relvado da Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, de oito mil bandeiras da Palestina antes da vigília que aí se realizou ao final da tarde de sexta-feira, 3, promovida por CPPC, CGTP-IN, MPPM e Projecto Ruído. Como o massacre prosseguia, no momento em que a vigília se iniciou a macabra contabilidade aproximava-se já das 10 mil vítimas mortais, entre as quais cerca de quatro mil crianças.
Miguel Mestre, do Projecto Ruído, foi um dos jovens que participou na colocação das bandeiras, iniciada logo a seguir ao almoço e que se deveria prolongar pela tarde fora. Mas não foi o que aconteceu, conta: «quando começámos veio muita gente ajudar. Mães com filhos, estafetas das plataformas de distribuição de refeições e outros que por aqui passavam, quando souberam do que se tratava, quiseram ajudar. Acabou por ser bastante rápido.»
Aos milhares de bandeiras, que subiam alameda acima, somaram-se mais tarde dezenas de pequenas luzes a compor a palavra «Paz!» e centenas de pessoas que durante duas horas ali se concentraram pelo fim dos bombardeamentos, a paz e a concretização dos direitos nacionais do povo palestiniano. A cultura – nem podia ser de outra maneira – esteve presente através da poesia e da música.
O actor António Olaio deu a conhecer alguns poemas de autores palestinianos, em que o amor à terra e a coragem para a defender e conquistar são magistralmente descritos: de Fadwa Tuqan, O Dilúvio e a Árvore; de Tawfiq Zayyad, Aqui ficaremos; de Hanan Awad, Últimas Palavras dos Mártires na Palestina; de Mahmud Darwich, À Minha Mãe; de Samih Al-Qasin, Morcegos. A DJ Violet mostrou ali a razão pela qual é justamente considerada um dos nomes maiores da música electrónica nacional e a cantautora Hadessa apresentou duas canções, uma delas – Ela é só uma menina – composta dias antes, a pensar na Palestina: «Escrevi-a depois de deitar os meus filhos em camas seguras e de dar um dia de aulas a crianças pequenas.»
Não faltaram também as palavras, solidárias e combativas, dos que desde sempre se batem por uma solução justa para a causa palestiniana: Julie Neves, do CPPC; Gonçalo Paixão, da CGTP-IN; Raul Ramires, do MPPM; e Pedro Henriques, do Projecto Ruído. E a certeza de que esta é uma luta para continuar: já no dia 11, na manifestação nacional da CGTP-IN, será reafirmada a solidariedade, e no dia 29, Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestiniano, com uma grande acção em Lisboa.
«Fiquem atentos a outras iniciativas que sejam marcadas», apelou o dirigente sindical João Coelho, que conduziu a iniciativa.
De Norte a Sul do País
Para além de Lisboa e do Porto, a solidariedade com a luta do povo palestiniano e a exigência de paz no Médio Oriente tem trazido muita gente para as ruas em várias cidades do País. Nos últimos dias realizaram-se concentrações em Viana do Castelo, Braga, Coimbra, Évora, Viseu, Portalegre, São João da Madeira, Santarém, Faro e Leiria. Para dia 15 estão outras marcadas, na Baixa da Banheira e em Setúbal, e vigílias no Montijo e em Almada. No dia 16 há concentração em Beja.
PCP exige paz e solução política
O PCP esteve presente na manifestação do Porto e na vigília de Lisboa, reafirmando o seu apoio à causa palestiniana e à paz no Médio Oriente e sublinhando a urgência de pôr fim ao massacre na Palestina.
Em Lisboa, o Secretário-Geral, Paulo Raimundo, lembrou os mortos e feridos das últimas semanas e salientou ser este o resultado do «não cumprimento das resoluções das Nações Unidas por parte de Israel, que alimenta uma ocupação opressiva e de apartheid que persiste há 75 anos». Criticou ainda a «hipocrisia e o cinismo que envolvem este tema», procurando resumi-lo a uma «guerra entre Israel e o Hamas» e confiná-lo aos últimos desenvolvimentos. E apelou a um imediato cessar-fogo, ao cumprimento das resoluções da ONU, ao fim da brutalidade e desumanização que resultam em milhares de mortes e à efectiva concretização de um Estado palestiniano livre e independente.
Na Assembleia da República, o PCP entregou uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para que este consagre o reforço do apoio à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, o que traduziria um «avanço no posicionamento de solidariedade e justiça da parte de Portugal».
• Parar de imediato o massacre, a agressão, a escalada de guerra
• Permitir a entrada de ajuda humanitária
• Cumprir as resoluções da ONU
• Pôr fim à ocupação e aos seus instrumentos
• Criar um Estado da Palestina soberano, independente e viável nas fronteiras anteriores a Junho de 1967 e com capital em Jerusalém Oriental
Um clamor que percorre o mundo
Por todo o mundo eleva-se o clamor em defesa da Palestina e da paz no Médio Oriente. Somando-se às dezenas de manifestações realizadas nas últimas semanas, realizaram-se muitas outras nos últimos dias, reunindo milhões de pessoas.
Só no dia 4 houve protestos em Washington, Berlim, Londres, Cardiff, Liverpool, Leeds, Manchester, Edimburgo, Belfast, Dublin, Paris, Amesterdão, Barcelona, Roma, Istambul, Ancara, várias cidades da Jordânia e da Tunísia, Santiago do Chile, Caracas, Buenos Aires, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Jacarta e Taipé.
“Aqui ficaremos
Façam-nos o pior
Nós guardamos a sombra
Da oliveira e da figueira
Nós semeamos as ideias
Qual fermento na massa
Os nossos nervos estão enregelados
Mas o fogo do inferno aquece os nossos corações.”
Excerto de «Aqui Ficaremos», de Tawfiq Zayyad (1929 - 1994)
“Lá fora, o fumo
E as nuvens ganhavam cor
Chuva de destruição
Tempestades de horror
Ela é a irmã mais velha
E ela é só uma menina
Mas pediu a uma estrela
Ver a paz na Palestina.”
Excerto de «Ela é só uma menina», de Hadessa