Uns comem a carne, outros roem os ossos…
Falando em Santiago de Compostela, na quinta-feira passada, a comissária europeia Elisa Ferreira, comentando a preocupação manifestada pelo ministro das Finanças com a redução de fundos estruturais – os fundos da política de coesão – motivada pelo eventual alargamento da UE a Leste da Europa, declarou que Portugal deve fazer a gestão dos fundos que recebe actualmente para deixar de depender deles.
Face a tais declarações, é caso para perguntar se o que Elisa Ferreira queria dizer é que Portugal deve cuidar do seu desenvolvimento soberano, ou seja, desenvolver a produção nacional, investir nos serviços públicos de qualidade, assegurar as funções sociais do Estado às populações, em todo o País, valorizar aquela que é a maior riqueza nacional, o trabalho e os trabalhadores, assegurar o controlo público dos sectores básicos e estratégicos da economia, defender o regime democrático e cumprir a Constituição?... Em suma, se deve libertar-se da submissão à União Europeia, ao euro e ao poder e domínio do capital monopolista?...
Mas não foi isso que a ex-ministra do Ambiente e do Planeamento dum Governo PS (ou não fossem PS, PSD e CDS, a que se juntam agora Chega e IL, os responsáveis pela política de direita...) quis dizer. As suas palavras são um aviso claro de que os tais fundos comunitários, que nunca compensaram os impactos do mercado e da moeda únicos, tenderão a desaparecer.
Ou seja, depois de expropriarem o País de instrumentos de soberania, de forçar a liberalização e as privatizações, de tornar o nosso país criticamente dependente do exterior, de acentuar um modelo de baixos salários e de substituir praticamente o investimento público nacional pelos fundos comunitários, o País terá agora de contentar-se com umas migalhas. E se em relação aos grupos económicos, que têm absorvido uma parte importante destes recursos, o Governo e a própria UE se encarregarão de os compensar, já em relação ao povo e ao País, sabemos o que a casa gasta...
Quando Elisa Ferreira diz o que diz não é de recuperação de soberania que está a falar, mas de mais política de direita, de mais submissão e dependência, de um País adiado e que hipoteca o futuro.
Caminho perigoso que o PCP sempre preveniu, denunciou e combateu e que os trabalhadores e o povo, pela sua luta, acabarão por interromper, reverter e reconstruir.