A responsabilidade do imperialismo

Albano Nunes

O perigo de incêndio de toda a região é real

Não há palavras que consigam exprimir tanto horror, tanta frieza terrorista, tanta desumanidade, tanta hipocrisia, tanta mentira e manipulação mediática. Perante os crimes que estão a ser cometidos na Faixa de Gaza, «solidariedade» é a única palavra certeira que me ocorre. Solidariedade! Solidariedade para com o povo palestiniano e a sua causa nacional e o maior respeito pelo heroísmo e dignidade com que enfrenta, hoje como ao longo dos 75 anos desde a «Naqba» (Catástrofe) de 1948, a perseguição e o martírio às mãos do sionismo e do imperialismo.

No momento em que escrevo este texto (23.10.23) as interrogações são mais que muitas. Impossível prever em concreto os próximos desenvolvimentos. Uma coisa é certa: os EUA e os seus aliados continuam a insistir até à saciedade no «direito de Israel a defender-se», a pedir «moderação» ao governo do fascista Netanyhau, mas a recusar condenar os seus crimes de guerra, a tentar amortecer o seu descrédito internacional jogando cinicamente com a questão «humanitária», falando em retomar o «processo de paz» iniciado com os nefastos acordos de Oslo (dos quais o PCP desde logo se distanciou), que serviram de cobertura para o avanço dos colonatos e para tentar impedir a construção de um estado palestiniano independente, soberano e viável nos territórios ocupados em 1967 e com capital em Jerusalém.

A verdade é que a escalada genocida contra o povo palestiniano em Gaza, mas também em Jerusalém Leste e na Cisjordânia onde ainda ontem foi bombardeado um campo de refugiados em Jenin, vai muito para além do vulgarmente designado de «conflito israelo-palestiniano». Israel foi sempre ponta de lança do imperialismo na sua política de desestabilização e domínio do Médio Oriente, e o que está a passar-se é inseparável da estratégia de agressão do imperialismo norte-americano levando pela trela os seus aliados da União Europeia. É significativo que os EUA, ao mesmo tempo que desenvolvem intensas e obscuras manobras político-diplomáticas, em que se insere a «histórica» visita de Biden a Israel, anunciem ameaceadores o reforço das suas forças armadas na região. O mínimo que pode dizer-se é que o imperialismo norte-americano está interessado no agravamento da tensão no Médio Oriente para justificar a sua estratégia de confrontação global, contrariar o seu declínio, encontrar «saída» para o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo. É isso que explica a impunidade de Israel nos bombardeamentos a aeroportos na Síria, as ameaças de «arrasar» o Líbano e mesmo as suas reiteradas provocações ao Irão. O perigo de incêndio de toda a região é um perigo real.

No que respeita à UE e às grandes potências da Europa, é inquietante que a classe dominante em países como a França, a Grã-Bretanha e particularmente a Alemanha, esteja de novo a agitar o espantalho do terrorismo para, atacar direitos fundamentais e proibir manifestações de solidariedade com o povo palestiniano, num quadro em que continuam a crescer e a aceder ao governo, forças racistas e fascistas.

A hora é de intensificar a solidariedade com o povo palestiniano e a sua causa nacional, é de apoiar e participar na manifestação do próximo domingo à tarde.




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