Volkswagen arrasta lay-off porque lhe dá milhões
A administração da Volkswagen Autoeuropa deveria estar já a pagar as remunerações na íntegra, mas mantém até dia 23 um lay-off que é a forma mais penalizadora de redução do período de laboração.
A multinacional paga menos aos trabalhadores e recebe da Segurança Social
O SITE Sul (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul) acusou a multinacional alemã e a sua filial portuguesa de recorrerem ao lay-off, porque com ele ganham «milhões», à custa dos trabalhadores.
Estes são directamente penalizados nos valores do salário, dos subsídios de turno e de alimentação, deprémios e do complemento por trabalho ao fim-de-semana, como se referia num comunicado de dia 2, quando a produção foi parcialmente retomada, embora «mantendo a normal e penosa rotação dos turnos e suspendendo o trabalho ao fim-de-semana e respectiva compensação monetária».
A Comissão Sindical do SITE Sul na VW Autoeuropa assinalou ainda que, também «no financiamento da VW através de fundos da Segurança Social, não podemos esquecer que também é dinheiro de todos os trabalhadores portugueses».
Anteontem, perante o anúncio de que a normalidade só será retomada a 23 de Outubro, a posição do sindicato foi reafirmada, em declarações ao Avante!, pelo seu coordenador, Eduardo Florindo.
Além da reposição imediata dos valores pagos aos seus efectivos, a VW deveria garantir a totalidade dos salários a todos os trabalhadores das suas fornecedoras que sofreram cortes salariais devido ao lay-off, defende o SITE Sul, sublinhando que se trata de um grupo que «gera milhares de milhões de euros de lucros anuais».
Pelo problema (quebra no fornecimento de peças) que justificou o lay-off, desde 11 de Setembro, «o único responsável é o Grupo VW, pela sua forma de gestão, ao nível da logística e aprovisionamento», recorda-se no comunicado do sindicato da Fiequimetal/CGTP-IN.
É também lembrado o facto de que, «na sua primeira decisão», a administração da VW Autoeuropa «lançou no desemprego trabalhadores com contratos precários, que trabalhavam nas linhas de produção da Autoeuropa, contratados por uma empresa de trabalho temporário (Autovision)». Para dia 23, segundo noticiou anteontem a agência Lusa, apenas é admitido o regresso de «cerca de uma centena» de trabalhadores temporários, ficando na incerteza e no desemprego «outros 325».
Mecanismos do lucro
A paragem de produção com garantia de remuneração (down days) «deixou de servir», protestou o SITE Sul, notando que este mecanismo foi criado, com acordo da Comissão de Trabalhadores, para fazer face a uma situação frequente nas empresas do sector automóvel. «A troco de aumentos salariais, à altura, alegando a garantia do emprego», o sistema de down days tem servido para paragens de produção no interesse patronal e, noutras ocasiões, já «ultrapassou largamente os 22 dias anuais acordados, garantindo sempre a totalidade dos salários».
Só que o lay-off é «um mecanismo bem mais apetecível» aospatrões, «aproveitando a permissividade da lei e a conivência do Governo e do Presidente da República».
«A VW Autoeuropa impôs unilateralmente otrabalho ao fim-de-semana, a partir de 2017», referiu ainda a Comissão Sindical, observando que ele «tem sido suspenso por várias vezes e por variados motivos», o que justifica questionar se «será efectivamente uma necessidade da empresa».