A campanha anticomunista não existe?
A campanha anticomunista teve mais um episódio nos últimos dias, a propósito do Centro de Trabalho de Aveiro. O episódio não se ficou pela esfera mediática, mas, como se verá, esta assumiu um papel determinante, em aliança obscura com outros actores. Vamos à história.
Em vésperas das eleições na Madeira e a uma semana das manifestações pelo direito à habitação, vários órgãos de comunicação social questionaram o PCP a propósito de um anúncio de uma imobiliária colocando à venda futuros apartamentos no local onde funcionou o Centro de Trabalho (CT) de Aveiro.
Os factos são curtos e simples: face às exigências e encargos financeiros que se colocavam À conservação do local onde funcionou o CT, foi feita uma permuta, no seguimento da qual reverterá para o PCP exclusivamente o espaço equivalente às instalações que detinha. Ou seja, o PCP não é responsável pelas obras em curso no local, nem é proprietário dos imóveis que se encontram à venda, cujos valores são da exclusiva responsabilidade do actual proprietário.
Mas a narrativa já estava escrita, o PCP «promove a especulação imobiliária através da construção de um prédio no centro de Aveiro com apartamentos à venda por 500 mil euros»!. Antes mesmo de o PCP prestar os esclarecimentos, já havia jornalistas (conhecidos pelo empenho no ataque ao PCP) a espalhar a mentira nas redes sociais. Um deles, Luís Ribeiro, é jornalista da Visão, onde até há poucos anos trabalhava um actual assessor de imprensa do grupo parlamentar da Iniciativa Liberal. Sem surpresa, a mentira foi depois utilizada por um deputado da IL no debate parlamentar de quarta-feira. Esse mesmo assessor foi ainda o primeiro director do jornal Novo, que viria a pegar no tema na sua edição do último sábado, com uma peça de quase duas páginas, curiosamente acompanhada por um artigo de propaganda a um livro do tal deputado, que por acaso também é colunista do jornal e a quem, nessa edição, deram uma página para insistir no ataque ao PCP.
Pelo meio, surgiram ainda dois exemplos muito claros de manipulação ao serviço da campanha anticomunista, à boleia de modernas «verificações de factos». Já houve tempos em que isso (a verificação de factos) era um passo essencial a qualquer trabalho jornalístico, a par de outros. Na verdade, nestes artigos modernos também há outros passos cruciais, nomeadamente o martelar do «facto» que pretendem verificar, como fez o Polígrafo. «Sede do PCP em Aveiro será demolida para construir prédio com “T3 à venda por 500 mil euros”?», foi a pergunta, com a resposta «Verdadeiro, mas...».
De facto, há uma parte que é verdade, só não é a que interessa a todos os que andaram a atacar o PCP, acusando-o de especulação imobiliária. Já o Público foi mais longe, começando por publicar um texto dizendo ser verdade que o PCP tem à venda apartamentos a meio milhão de euros. Confrontado com a realidade, lá teve de editar a peça, mas de uma forma muito criativa. O facto a verificar passou a ser «PCP demoliu a sede em Aveiro para “pôr lá” um prédio com apartamentos a meio milhão de euros», e a conclusão de que é «parcialmente verdadeiro». Percebemos bem quem é parcial nesta conversa, mas não é a verdade.
Perante isto, continuar a dizer que não há campanha anticomunista parece aquelas crianças que não querem aceitar que o Pai Natal não existe.