Mali, Burkina e Níger em defesa da soberania

Carlos Lopes Pereira

O povo e os go­ver­nantes do Níger ce­le­braram a de­cisão da França de aceitar re­tirar as suas tropas e os seus di­plo­matas do país oeste-afri­cano, como era rei­te­ra­da­mente exi­gido pelas au­to­ri­dades lo­cais.

Paris anun­ciou que as tropas de França, cerca de 1500 efec­tivos, assim como o em­bai­xador e todo o pes­soal di­plo­má­tico francês, aban­do­narão o Níger «de forma or­ga­ni­zada», antes do fim deste ano.

Em Ni­amey, o go­verno con­si­derou a re­ti­rada fran­cesa uma «nova etapa rumo à so­be­rania», um «mo­mento his­tó­rico» que tes­te­munha a «de­ter­mi­nação e von­tade do povo ni­ge­rino». E avisou que, agora, as «forças im­pe­ri­a­listas e ne­o­co­lo­ni­a­listas não são bem-vindas» no Níger.

Su­bli­nhando que está já em marcha uma «nova era de co­o­pe­ração, ba­seada no res­peito mútuo e na so­be­rania», o Níger can­celou os acordos com a França na área mi­litar e man­teve a proi­bição de aviões fran­ceses so­bre­vo­arem o es­paço aéreo ni­ge­rino, que no en­tanto está aberto a voos co­mer­ciais na­ci­o­nais e in­ter­na­ci­o­nais.

País rico em urânio e ou­tros re­cursos mi­ne­rais, desde há dé­cadas ex­plo­rados por em­presas es­tran­geiras, sem be­ne­fí­cios para o povo, o Níger al­berga bases mi­li­tares e tropas fran­cesas e norte-ame­ri­canas. Washington anun­ciou há dias que está a «ava­liar» a sua «co­o­pe­ração» mi­litar com o novo go­verno do país, no­me­a­da­mente no que con­cerne à sua base aérea em Agadez, uma das mai­ores de que dispõe em África.

Em fi­nais de Julho, mi­li­tares ni­ge­rinos des­ti­tuíram o pre­si­dente Mohamed Ba­zoum, um fiel aliado da França, e to­maram o poder, ale­gando a «con­tínua de­te­ri­o­ração da si­tu­ação de se­gu­rança» e a «má go­ver­nança eco­nó­mica e so­cial». For­maram o Con­selho Na­ci­onal para a Sal­va­guarda da Pá­tria, che­fiado pelo ge­neral Omar Tchiani, que de­pois se as­sumiu como «pre­si­dente de tran­sição».

Desde então, a França e a Co­mu­ni­dade Eco­nó­mica dos Es­tados da África Oci­dental (Ce­deao) exer­ceram pres­sões eco­nó­micas e di­plo­má­ticas e ame­a­çaram in­tervir mi­li­tar­mente no Níger para «repor a ordem cons­ti­tu­ci­onal», mas não con­se­guiram con­cre­tizar as ame­aças. Para isso terão con­tri­buído as po­si­ções as­su­midas por di­versos países da re­gião, con­trá­rios a in­ge­rên­cias ex­ternas e a qual­quer even­tual agressão es­tran­geira.

Nessa al­tura, o Mali e o Bur­kina Faso, ambos go­ver­nados por mi­li­tares e que, antes, já ti­nham ex­pul­sado as tropas fran­cesas dos seus ter­ri­tó­rios, ali­aram-se fir­me­mente ao Níger.

Re­cen­te­mente, du­rante a As­sem­bleia-Geral das Na­ções Unidas, o mi­nistro de Es­tado do Bur­kina Faso, Bas­solma Bazie, de­nun­ciou que o seu país, tal como o Mali e o Níger, foram en­vol­vidos no Sahel «numa guerra di­tada pelo im­pe­ri­a­lismo» a pre­texto do «com­bate ao ter­ro­rismo». Ex­plicou que os três países, com fron­teiras co­muns, es­ta­be­le­ceram um pacto de de­fesa co­lec­tiva e as­sis­tência mútua, de­no­mi­nado Ali­ança dos Es­tados Sahel, «para tomar o nosso des­tino nas nossas mãos». E, de forma pe­remp­tória, afirmou que «di­zemos não a todos os pre­tensos amigos que querem o nosso su­posto bem-estar ou que nos ame­açam com a guerra para impor a sua ami­zade». O di­ri­gente bur­qui­nense ma­ni­festou também a opi­nião de que a Ce­deao, a União Afri­cana e a Or­ga­ni­zação das Na­ções Unidas de­ve­riam ac­tuar em be­ne­fício dos povos e não serem es­tru­turas con­tro­ladas por uma «mi­noria global».

 



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