Loredana Savino

«A Itália e o Mundo necessitam dos comunistas»

O seu mais recente trabalho dá pelo nome de Disco Comunista, o que diz bem do posicionamento político da cantora italiana Loredana Savino, com um percurso artístico de mais de duas décadas marcado sobretudo pela interpretação de temas da polifonia popular, cânticos antifascistas e de resistência. À Festa trará também canções tradicionais que falam do trabalho e da emancipação social

Os cânticos antifascistas e comunistas integram o espectáculo na Festa

 

Lançou o ano passado um álbum intitulado Disco Comunista, com a foice e o martelo desenhados na capa vermelha e 10 canções que fazem parte do património cultural das lutas operárias. Numa Itália que é governada à direita, este disco procurou ser uma provocação, um acto de resistência, uma homenagem ao passado ou uma proposta para o futuro?

A ideia do Disco Comunista surgiu do meu desejo de interpretar cânticos antifascistas e comunistas, que têm sido parte do meu repertório ao longo dos anos.

A ‘’foice’’ e o ‘’martelo’’ são símbolos importantes e intimamente ligados aos temas das músicas que estão presentes no disco; não houve intenções provocatórias por trás da decisão de incorporar estes símbolos na capa. O Disco Comunista é o fruto de um forte desejo de reacção, de luta contra os fascistas e os capitalistas. A Itália e o mundo necessitam dos comunistas!

 

As possibilidades de escolha de «canções comunistas» são imensas – e a Itália produziu muitas, que são mundialmente célebres. Pode explicar os critérios que seguiu para a escolha específica destas 10 canções?

Muitas das músicas escolhidas fazem parte do repertório que há anos canto nas manifestações antifascistas e do Partido; considerando, contudo, o vasto repertório de canções disponíveis, tive necessariamente de focar-me nas canções para as quais tenho mais carinho.

 

Os arranjos de quase todas estas canções não se limitam a reproduzir a melodia e as harmonias básicas de cada uma delas, procuram uma reinterpretação e uma originalidade na abordagem musical. Como é que esse trabalho foi pensado e executado e o que se pretendeu com ele?

Este disco representa uma boa parte do meu percurso artístico: a polifonia popular, aquele em estilo barroco, a tarantella, a progressive italiana, o sinth pop que remete para as sonoridades dos anos ’80 no estilo de Franco Battiato, o teatro musical. Cada música tem a sua própria identidade, o seu estilo e género; estão particularmente presentes os instrumentos tradicionais, como as pandeiretas, o bandolim, o acordeão, etc.

 

Há, em Itália, muitos artistas empenhados politicamente à esquerda, como aconteceu em décadas anteriores, ou esse envolvimento político-social é actualmente mais raro?

Em Itália já não há grande agitação política entre os músicos; com certeza muitos artistas italianos estão sensíveis e atentos aos temas da imigração e da paridade de género, mas pouquíssimos, pelo menos entre os mais famosos, estão politicamente posicionados. Em Itália, infelizmente, falta uma verdadeira Esquerda na oposição; estamos a viver um período muito difícil.

 

A Loredana Savino é pouco conhecida em Portugal. Pode fazer-nos um resumo da sua carreira artística?

Sou uma cantora há mais de vinte anos; comecei com um espectáculo de canti partigiani e de luta; a seguir trabalhei em projectos focados na tradição musical da minha terra de origem, a Alta Murgia na Puglia. Apaixonei-me pela polifonia e estive em diferentes formações corais nas quais cantava-se a música antiga; a seguir, chegaram os projectos importantes como U Manacidde, Sossio Banda, Terrae com os quais tive a oportunidade de viajar pela Europa e de me exibir também em Portugal. Há sete anos sou uma das cantoras do quarteto vocal Faraualla.

A minha paixão pela voz e as suas possibilidades narrativas fez com que me aproximasse ao teatro e à performance; realizei diferentes instalações sonoras, dirigi alguns espectáculos que tinham como ponto central a voz.

 

No espectáculo que vai apresentar na Festa do Avante! vai apresentar outras canções, para além das 10 que fazem parte do Disco Comunista?

Para o espectáculo na Festa do Avante!, além das músicas presentes no Disco Comunista, estão previstas canções tradicionais da Puglia que falam do trabalho nos campos e do resgate social.




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