Rankings, exames e palavras doces
Como sempre acontece por esta altura do ano, foram recentemente divulgados os rankings que se propõem hierarquizar – com números e gráficos muito científicos, nem podia ser de outra maneira – as escolas portuguesas pelo seu «desempenho». Medindo, para isso, factores como as notas dos exames e das provas ou as médias agregadas dos estudantes.Sem surpresa, ou não fosse assim ano após ano, a lista é liderada por colégios privados.
Havia muito para dizer sobre estes rankings e as suas (chamemos-lhe assim) «conclusões»: que comparam o incomparável; que não têm em conta os contextos socioeconómicos em que cada uma das escolas se insere; que ignoram realidades como a «compra» de notas em alguns colégios privados, onde é maior a disparidade entre as classificações dos exames e as avaliações internas e as notas mais frequentes são o 19 e o 20 (Renascença, 16.6.23). Deles disse a Fenprof que «não avaliam as escolas» e que existem, «fundamentalmente, para promover o ensino privado». Oministro da Educação, João Costa, considerou-os uma «operação comercial», denunciou as comparações desiguais e pouco criteriosas que estão na base da sua elaboração e saiu em defesa da escola «pública» e «inclusiva».
Não restam dúvidas de que a escola pública foi e é uma das mais importantes conquistas de Abril. Democratizou a instrução, generalizou o acesso à cultura, às artes e ao desporto, integrou crianças e jovens desfavorecidos, formou seres humanos livres e com espírito crítico, impulsionou o desenvolvimento do País. O problema é o que lhe têm feito sucessivos governos, incluindo o actual, que integra o citado ministro: o subfinanciamento; a desvalorização dos profissionais; a subalternização de critérios pedagógicos a outros, de natureza economicista; a indisfarçável tendência para a elitização.
Que o digam os milhares de estudantes que, por estes dias, realizam os exames nacionais, essa autêntica aberração que desvaloriza o trabalho quotidiano nas escolas e afasta tantos jovens do sonho de prosseguir os estudos. Muitos fazem-nos sem que tenham tido professor a uma disciplina durante quase todo o ano lectivo (à entrada do último período, havia 18 mil alunos nestas condições) ou após terem frequentado escolas degradadas, onde chove nas salas de aula e a biblioteca, a papelaria e o pavilhão desportivo (quando existe) abrem à vez porque não há trabalhadores suficientes para que funcionem em simultâneo. Há também quem chegue aos exames sem ter sequer conseguido esclarecer dúvidas, porque a turma era demasiado grande, as explicações demasiado caras e os horários dos pais demasiado extensos.
Para defender e valorizar a escola pública, senhor ministro, não bastam palavras. Por mais doces que sejam.