A guerra
A guerra está às portas da Europa. Uma guerra com incontáveis mortos. Que separa famílias e que, de novo, deixa mães sem filhos e filhos sem pais. Que ceifa, indiscriminadamente, homens, mulheres, jovens e menos jovens, crianças.
Uma guerra sem tréguas, sem quartel, para a qual parece não haver interesse em procurar a paz e que, por isso, cresce de intensidade a cada dia que passa.
Uma guerra que opõe dois lados bem distintos.
De um lado temos os que, para defender, dizem eles, um determinado modo de vida (será talvez o famoso modo de vida ocidental), derramam bombas um pouco por todo o planeta, do Médio Oriente à Ásia Central, de África até à própria Europa. E, no seu afã de, como ontem espalharam a fé e os bons costumes, alargarem hoje os seus domínios à exploração das riquezas de vastos territórios, vão com pezinhos de lã sempre que conseguem, mas atacam de botas cardadas sem vacilar, sempre que julgam que não há outro caminho.
Do outro lado temos os novos famélicos da terra, vindos de paragens distantes para se juntarem ao exército dos que procuram uma vida melhor, dos que fogem da pobreza imposta e das bombas que chegaram, invariavelmente, com o selo dos EUA, da NATO, da UE, de Israel ou de grupos terroristas por eles armados e financiados, ao Afeganistão, à Síria, à Líbia, a países diversos da África subsariana, dos que vêem os seus países e, consequentemente, as suas vidas, exauridos na fúria do domínio imperialista.
Nessa guerra, os segundos investem todos os dias contra o fosso que protege a Europa, o Mar Mediterrâneo, e contra muros e fronteiras que os primeiros, assistindo de camarote ao drama humano que ali se vive, erguem cada vez mais altos.
Os segundos, que se apresentam armados apenas da sua sede de uma vida melhor, se lhes fosse permitido alcançá-la nos seus locais de origem para si e para os seus, desistiriam desta guerra de bom grado. É isso que há a fazer, assegurando aos povos o direito a decidirem dos seus destinos e a beneficiarem das suas próprias riquezas.
Como nos últimos meses ficou absolutamente claro, não é por falta de meios que isso não é feito. Para a outra guerra que o imperialismo impõe a Leste, esta semana a UE decidiu dedicar mais 50 mil milhões de euros.
Entretanto, vamos continuar a assistir aos que choram lágrimas de crocodilo pelas crianças que dão à praia, enquanto esse exército vai continuar a morrer nos barcos que naufragam à vista de todos.