É preciso ter lata!

João Frazão

Baixos salários, desregulação dos horários, ritmos de produção intensos são os ingredientes principais com que se faz o dia-a-dia de quem produz os enchidos e os fumados que chegam à mesa de muitas famílias no nosso país.

Dizia uma trabalhadora, na iniciativa «Em Luta. Mais força aos Trabalhadores», que aqueles que fazem os fiambres, os bacons e os presuntos nas Carnes Nobre não os conseguem comprar.

Por muitas memórias diversas que esta marca provoque, note-se que já não estamos a falar de uma empresa familiar ou sequer nacional. Trata-se da unidade portuguesa do grupo multinacional Sigma, um dos maiores do mundo do ramo alimentar, depois de ter sido vendida, nos anos 90 do século XX, e de ter passado por várias mãos, desde aí.

Ora, é nesta unidade industrial, ali no concelho de Rio Maior, que assistimos a uma forte mobilização reclamando, justamente, um salário que passe da chapa cinco, que corre trabalhadores com dezenas de anos de casa com o Salário Mínimo Nacional, para um mínimo de 850 euros, a actualização do subsídio de alimentação para sete euros por dia, 25 dias úteis de férias, regulação dos horários de trabalho, e desde logo a redução para as 35 horas semanais, para além do direito ao dia do aniversário do trabalhador e dos filhos até 12 anos.

Mobilização que envolveu plenários, concentrações, greves, a que a empresa não estaria habituada, tendo decidido responder aos trabalhadores com a atribuição a cada um de uma latinha de salsichas, como prémio de consolação.

Latinha que, como também afirmou a trabalhadora na iniciativa que culminou a acção «Mais Força dos Trabalhadores», ao invés de saciar a fome, antes a alimenta. Porque, confirmando a contradição fundamental e insanável do capitalismo entre o trabalho, a quem o patrão tenta calar com uma latinha de salsichas, e o capital, a quem os trabalhadores entregaram só no primeiro trimestre deste ano 1991 milhões de dólares em receitas, faz crescer o sentimento de injustiça de quem produzindo toda a riqueza a vê apropriada por quem explora o seu trabalho e alimenta a vontade de prosseguir a luta para não ver o futuro completamente enlatado.




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