Basta de guerra, celebremos a paz

Carlos Lopes Pereira

A Etiópia agradeceu à União Africana, à África do Sul e ao Quénia o contributo que deram para o processo de paz entre Adis Abeba e a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF).

Em princípios de Novembro do ano passado, após conversações em Pretória, na África do Sul, com a mediação do ex-presidente nigeriano Olesegun Obasanjo, alto representante da União Africana, o governo etíope e a TPLF, em confronto desde finais de 2020, anunciaram o fim das hostilidades.

Desde então, o processo de paz tem avançado, com a distribuição de ajuda humanitária às populações das zonas afectadas pelo conflito, com a deposição das armas pesadas, a desmobilização dos combatentes, o reabrir das escolas e serviços de saúde – tudo isso tendo em vista a resolução pacífica das questões mais prementes e a reconciliação entre as comunidades desavindas. Paz e reconciliação essas consideradas pilares fundamentais para preservar a soberania e a integridade territorial da Etiópia.

Este bem sucedido Acordo de Paz de Pretória, com o lema «Basta de guerra, celebremos a paz», é agora saudado em Adis Abeba, com os governantes etíopes a enaltecer o princípio que norteou as negociações – «soluções africanas para os problemas africanos».

Mas, na África de hoje, nem sempre há finais felizes como este, muito menos só com «soluções africanas», já que na maior parte dos casos as contradições, as tensões e as guerras são semeadas, instigadas ou provocadas por potências estrangeiras associadas a interesses das elites nacionais.

Basta olhar para um dos vizinhos da Etiópia, o Sudão, outro grande país, que após anos de golpes de Estado e etapas de «transição para a democracia» nunca concretizadas, apesar das lutas dos povos e das forças progressistas, afunda-se numa guerra entre facções. E, claro, os meios de informação sudaneses e internacionais referem ingerências protagonizadas por países africanos e árabes, alinhados com as potências «ocidentais» do costume, «preocupadas», no caso do Sudão, não só com os seus recursos petrolíferos mas também com a sua localização estratégica, à beira do Mar Vermelho.

Apesar dos esforços africanos para silenciar as armas, de Norte a Sul do continente persistem os conflitos armados, sob diversas formas. No Sahara Ocidental, a «última colónia em África», o valente povo sarauí, sob a direcção da Frente Polisário, luta de armas na mão pela sua independência contra a ocupação ilegal de Marrocos, um aliado dos Estados Unidos da América e de Israel. Na Líbia, o país continua dividido e ingovernável, mais de uma década após a intervenção das forças dos EUA e da NATO. No Sahel, diversos países (Mali, Burkina Faso, Níger, Chade…) continuam a enfrentar acções armadas de grupos «terroristas», assim como a Nigéria, uma das primeiras economias africanas. A guerra flagela também, desde há anos, o leste da República Democrática do Congo e a Somália, entre outros conflitos onde as «soluções africanas» não resultaram.

Não sendo o único continente a sofrer as consequências catastróficas das guerras, a África – os seus povos, os seus governantes, mesmo parte das suas elites – têm a consciência de que sem paz não há desenvolvimento e progresso social.

Têm muita razão, pois, os etíopes quando no seu país clamam pelo fim da guerra e pela construção da paz.

 



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