Um dos gurus do liberalismo luso, alcandorado em especialista em matérias diversas que justifiquem o agravamento da exploração e os obscenos lucros que o capitalismo nacional acumula à custa das dificuldades dos trabalhadores e do povo, veio esta semana, em coluna jornalística que o capital graciosamente (que não de graça!!) lhe concede, explicar a origem da inflação.

«A inflação é na verdade um fenómeno complexo que resulta de um desequilíbrio entre procura e oferta. Quando a quantidade de um produto que as pessoas querem comprar aos preços actuais é maior do que a quantidade que as empresas conseguem produzir a esses preços, os preços tenderão a aumentar.»

Esta gente nunca desilude. Andamos nós a matar a cabeça sobre como chegar ao fim do mês com preços que aumentam todos os dias, para nos virem estes espertos de pacotilha descomplexificar, em 293 caracteres apenas, que afinal a lei da oferta e da procura, velha como o capitalismo, não é mais que a explicação científica para a especulação.

Pois o liberal de trazer por casa finge ignorar que uma boa parte da inflação, designadamente nos alimentos, se deu, não num quadro de aumento da procura mas, ao invés, numa situação da maior quebra no consumo de que, por cá, há memória. Ou que, num produto tão conhecido como o azeite, a produção nacional tem vindo a aumentar todos os anos de forma muito sustentada sem nunca se ter visto a queda nos preços, antes pelo contrário.

Mas diz mais o cavalheiro, que a inflação só se combate aumentando a produção, uma vez que a alternativa (sem dizer qual ela é) seria muito mais dolorosa.

Não podemos deixar de lhe reconhecer razão. Aumentar os salários e fixar os preços (a tal alternativa que até tem medo de verbalizar) custaria um pouco mais. Só que, desta feita, custaria aos que ele representa, aos que vivem à conta dos que passam sempre por apertos, quer haja, quer não haja inflação. De facto, valorizar o trabalho e distribuir menos mal a riqueza beliscaria um pouco os sacrossantos lucros que ele tanto venera. É essa preocupação que ele traz inflacionada e é essa equação que ele tem medo que os trabalhadores descomplexifiquem.