A luta de massas e as acções provocatórias que nos esperam

Vasco Cardoso

A manifestação nacional do dia 18, que ocupou o centro de Lisboa com uma impressionante mobilização, é um facto incontornável e marcante na vida nacional, seja pelo que comporta de recusa à política de direita, seja pelo que transporta de exigência de mudança no sentido do aumento dos salários e pensões, da defesa dos serviços públicos, de uma mais justa distribuição da riqueza, do cumprimento da Constituição da República. Uma afirmação poderosa dos interesses de classe dos trabalhadores, da importância e papel da organização e do Movimento Sindical Unitário, e um aviso sério ao Governo, às forças reaccionárias e ao grande capital, quanto à determinação existente nos trabalhadores para continuar a luta por uma vida melhor.

Tal mobilização, pelo impacto que suscita, é terreno fértil não apenas para o aparecimento de oportunismos diversos que, em geral, parasitam este tipo de acções, mas também para a dinamização de actos provocatórios. Foi o que aconteceu com a presença, depois de terem anunciado manifestações como Portugal nunca vira e a criação de uma central sindical para se opôr à CGTP-IN, de uma delegação do Chega (CH) que a manifestação sabiamente ignorou, já não se podendo dizer o mesmo das diferentes rádios e televisões.

Acto provocatório porque o CH é uma destacada expressão política dos interesses mais revanchistas do grande capital e do seu projecto de liquidação das conquistas de Abril e de regresso a um passado fascista; porque, apesar de toda a demagogia, é o agravamento da exploração e da opressão das classes dominantes sobre as classes exploradas que defendem; porque o seu projecto de sociedade é incompatível com a democracia e as liberdades, incluindo as liberdades e direitos sindicais.

Qual lobo com pele de cordeiro, o CH dissimula os interesses que defende e os objectivos que transporta por detrás de uma retórica demagógica em torno do agravamento da situação social. E a sua presença naquela manifestação, visando atrair e ser centro das atenções, só funciona com a cumplicidade da comunicação social, cujo papel na promoção das forças e projectos reaccionários tem sido fundamental.

Estes são tempos em que este tipo de acções provocatórias precisam de ser firmemente denunciadas, isoladas e repelidas. Não permitindo que a provocação atinja os seus objectivos, mais do que nunca, impõe-se: a intensificação e alargamento da luta de massas, base sem a qual uma política alternativa aos interesses do capital não é possível.




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