Guerra e censura
O debate tinha por tema de fundo a questão da informação. O seu título era «Preservação da verdade no contexto da guerra na Ucrânia» e reunia três jornalistas portugueses que tinham coberto a guerra na Ucrânia: dois do lado da NATO, um no Donbass do lado russo. O debate, promovido pela Associação Iuri Gagarin, suscitou um grande interesse nas redes sociais, apesar de ter sido, naturalmente, completamente censurado na Comunicação Social Dominada.
A pressão abateu-se sobre quem alugou ou cedeu uma sala para a realização do debate. Silenciosa, ilegal, anticonstitucional, mas real. Impune. E as entidades foram cedendo à pressão, e o debate foi mudando de local de realização a um ritmo quase diário. Até que alguém não cedeu, e o debate se realizou numa sala completamente a abarrotar. (A recordar-nos os tempos em que Lénine incluía a propriedade das salas de reunião nas expressões da ditadura da burguesia.)
O debate permitiu constatar coisas muitos simples e muito básicas: que o trabalho dos jornalistas é ainda mais condicionado em tempos de guerra; que é preciso muito cuidado para que os jornalistas não sejam apenas transmissores da versão – sempre manipulada – de uma das partes; que não estamos a ser devidamente informados, em termos de massas, pois a maioria das informações factuais ali trazidas sobre os ataques a civis no Donbass são completamente ignoradas, escondidas ou desvalorizadas pela Comunicação Social (enquanto o mesmo tipo de notícia «no outro lado» é sempre empolado e amplificado).
E percebeu-se o quão importante é, para os senhores da guerra, esconder a verdade, e esconder a mais importante das verdades: a humanidade das vítimas, sejam soldados ou civis. Porque desumanizar o outro é um elemento central na lógica da guerra.
Porque a verdade, o que exige a gritos, é que se calem os tambores da guerra e se oiça a Paz.