O militarismo japonês
O militarismo japonês está de volta, ameaçador
No país do Sol Nascente estão a formar-se negras nuvens, carregadas de perigos. O militarismo japonês está de volta, ameaçador. O abandono da Constituição pacifista que resultou da derrota do Japão na II Guerra Mundial é já uma realidade. Tornou a ser possível haver tropas japonesas fora do país e a classe dominante japonesa está empenhada numa corrida aos armamentos sem precedentes, em articulação cada vez mais estreita com os EUA e com o mesmo pretexto da «ameaça chinesa», nomeadamente em torno de Taiwan.
As notícias sobre o comportamento do governo nipónico nesta matéria são na verdade inquietantes. Ao continuamente reforçado Tratado de Segurança de 1951, com os EUA, às numerosas bases militares norte-americanas na ilha de Okinawa e noutras regiões, às manobras militares conjuntas com os EUA e a Coreia do Sul dirigidas contra a RPDC, à participação em alianças regionais agressivas mais recentes, como o Quad, vem somar-se a decisão de duplicar as despesas militares, tornando o Japão o terceiro país do mundo com maior orçamento na área da «defesa».
Na expansão da NATO para a Ásia (ou na construção de uma «NATO asiática», tanto vale), o Japão é chamado a ocupar uma posição particularmente destacada ao serviço da estratégia de hegemonia mundial do imperialismo norte-americano. Trata-se de uma situação que encerra grandes perigos para a segurança e a paz na região Ásia-Pacífico e no mundo. Enquanto os EUA, a NATO e a UE se empenham num estonteante frenesim de reuniões de articulação para lançar mais achas para a fogueira da Ucrânia, o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida realiza um périplo preparatório da Cimeira do G7, que terá lugar em Maio no Japão, culminando em Washington num encontro com Biden, centrado na corrida armamentista. É significativo que sobre um tal encontro o Washington Post tenha escrito que as duas partes se comprometeram «a trabalhar em conjunto para transformar o Japão numa poderosa potência militar que ajude a contrabalançar a China e que consolide a aliança entre os dois países, de tal forma que seja a pedra angular dos seus interesses de segurança na Ásia».
É certo que a História não se repete, mas é indispensável lembrar o trágico manancial de crimes protagonizados pelo imperialismo. Lembrar a ocupação colonial da Coreia a partir de 1910, que só terminou com a derrota do Japão e a vitória da luta patriótica dirigida pelo Partido do Trabalho da Coreia, e que envolveu um tal grau de exploração e opressão que ainda hoje suscita profundos ressentimentos devido à sua negação pelas autoridades japonesas. Lembrar que a II Guerra Mundial começou de facto em 1931, com a invasão da Manchúria pelas tropas imperiais japonesas, que o Japão se juntou ao nazismo alemão e ao fascismo italiano no célebre Pacto-Antikomintern, contra a União Soviética e o movimento comunista internacional, que a partir de 1937 estendeu a ocupação a praticamente todo o território chinês, cometendo, como no massacre de Nanquim, os mais monstruosos crimes.
A História não se repete, mas deixa-nos memórias e ensinamentos de grande valor que devem alertar-nos para os perigos do renascimento do militarismo japonês.