Amílcar Cabral

Ângelo Alves

O PCP comemora o centenário de Amílcar Cabral até Setembro de 2024

Na sexta-feira, 20 de Janeiro, cumprem-se 50 anos sobre o assassinato de Amílcar Cabral, histórico dirigente da luta de libertação nacional dos povos da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Tentando impedir o desenvolvimento da luta pela independência, a consolidação da ideia de que (nas palavras de Amílcar), «a nossa situação é a de um Estado independente em que uma parte do território nacional, nomeadamente os centros urbanos, está ocupada por uma potência estrangeira», e a prossecução da estratégia da unidade dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, agentes a soldo da PIDE levaram a cabo uma operação conspirativa que culminou no assassinato de Amílcar Cabral em Conacri, capital da República da Guiné.

Se o abjecto crime do regime fascista português – demonstrativo da sua natureza, prática e métodos, que nenhuma operação de branqueamento conseguirá apagar – cumpriu o objectivo de eliminar fisicamente uma das mais proeminentes personalidades da luta de libertação dos povos africanos já o objectivo político de com isso travar a marcha libertadora daqueles povos não foi minimamente alcançado. Passados poucos meses, a 24 de Setembro de 1973, o PAIGC declarava a independência da Guiné-Bissau. A luta a que Amílcar Cabral dedicou quase toda a sua vida prosseguia mais forte, e essa foi mais uma prova da forma como o dirigente e fundador do PAIGC edificou e cimentou a unidade na luta de libertação nacional e de como ligou, como marxista que era, com uma notável criatividade e ligação à realidade, a teoria e a prática revolucionárias, construindo a unidade popular e as forças, políticas e militares, necessárias para prosseguir a luta até à vitória. Assim foi. A derrota do regime fascista na guerra colonial era uma tendência cada vez mais evidente, e em Portugal, com a acção decisiva do PCP, desenvolvia-se e fortalecia-se a unidade antifascista na sociedade e nas forças armadas. O fim do regime fascista e da sua opressão colonial em África estavam perto do fim, e a Revolução do 25 de Abril estava prestes a acontecer.

Tal como o PAIGC e o PCP afirmaram várias vezes, a luta dos povos da Guiné e Cabo Verde e a luta do povo português eram convergentes e tinham um inimigo comum. Foi a derrota desse inimigo comum que permitiu a liberdade de ambos os povos.

O PCP realizará hoje, dia 19, uma iniciativa evocativa da figura de Amílcar Cabral. Trata-se de uma primeira iniciativa de várias que o PCP levará a cabo até Setembro de 2024, data do centenário do seu nascimento. As iniciativas que o PCP irá desenvolver em estreita cooperação com o PAIGC e o PAICV procurarão não só divulgar a obra e o pensamento de Amílcar como, simultaneamente, trazer para os dias de hoje o riquíssimo património dos processos de luta de libertação nacional no continente africano, a sua essência política e ideológica, e afirmar a actualidade e importância de manter e reforçar o apoio às forças que, após a independência, se lançaram nessa gigantesca tarefa de a transformar em soberania, desenvolvimento e progresso dos seus povos. Tal objectivo é tão mais importante quanto os povos de África estão confrontados com perigos e manobras de ingerência e quanto em Portugal se renovam tentativas de branqueamento do fascismo e de reabilitação de bolorentas concepções neocoloniais.




Mais artigos de: Opinião

Examine-se

Para que serve a avaliação dos estudantes? Deveria servir para aferir, em cada momento, os conhecimentos adquiridos e para se tomarem medidas para puxar pelos que estivessem com mais dificuldades. A escola pública, construção de Abril, tem a obrigação de assegurar a todos, independentemente das suas condições...

Corrupção: a mão por detrás do arbusto

Na torrente de notícias sobre corrupção que, cumprindo uma agenda meticulosamente preparada, inundam o debate público há, em regra, uma grave omissão: a responsabilização do grande capital. Toda a narrativa em torno da sucessão de casos que vão preenchendo a agenda mediática - e que fazem fermentar uma cultura marcada...

A necessidade é outra

O primeiro-ministro veio justificar a «necessidade» de empresas públicas como a TAP e a CGD pagarem salários aos seus administradores bem acima dos salários «normais» dos gestores públicos, porque competem num mercado liberalizado. Como sempre, o argumento é o da concorrência, aqui, a necessidade de segurar gestores...

Amizade e coerência

Faz amanhã 50 anos que foi assassinado Amílcar Cabral, destacado dirigente da luta libertadora dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. No próximo ano, a Revolução de Abril cumpre a mesma idade. Como sempre sucede com as efemérides, ouve-se e lê-se de tudo: investigadores honestos e vulgares trafulhas; análises...

A biodiversidade e a privatização de todas as esferas da vida na Terra

A Conferência das Nações Unidas para a Biodiversidade decorreu em Dezembro do ano passado, presidida pela China e realizada no Canadá. Participaram representantes de 188 países, que subscreveram a Estratégia Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal, com o objectivo de travar e reverter...