Amizade e coerência
Faz amanhã 50 anos que foi assassinado Amílcar Cabral, destacado dirigente da luta libertadora dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. No próximo ano, a Revolução de Abril cumpre a mesma idade.
Como sempre sucede com as efemérides, ouve-se e lê-se de tudo: investigadores honestos e vulgares trafulhas; análises sustentadas e banalidades; protagonistas coerentes e aqueles que procuram hoje pintar de cores vivas as apagadas participações passadas, quando não percursos pouco honrosos. E lá vem, com frequência, a tese do «atraso» do PCP face à questão colonial…
Fiel à tese marxista de que não é livre o povo de um país que oprime outros povos, o PCP associou desde cedo a luta contra o fascismo àquela que os povos africanos submetidos ao colonialismo português travavam pela sua emancipação.
Em Setembro de 1957, no seu V Congresso, exigiu – quando mais ninguém o fazia! – a completa e imediata independência das colónias portuguesas. Em 1965, já com as guerras de libertação em curso nos territórios de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique (que saudou e apoiou desde a primeira hora), consagrou no seu Programa, como um dos oito objectivos da Revolução Democrática e Nacional, reconhecer e assegurar aos povos das colónias portuguesas o direito à imediata independência.
Mas se estes são os principais marcos programáticos do PCP relativos à questão colonial, não constituem nem o início nem o fim de um percurso: a denúncia da brutal exploração de que eram vítimas os povos das colónias é tão antiga quanto o Partido e o reconhecimento do seu direito a constituírem-se como Estados independentes foi assumido logo em 1943, no seu III Congresso, o primeiro na clandestinidade.
Longe de limitar a sua solidariedade às proclamações e aos princípios (e tão importantes são, umas e outros), o PCP sempre apoiou na prática a luta de libertação nacional em África: acolheu e ajudou a formar muitos dos quadros dos movimentos de libertação; organizou a saída de Portugal de Agostinho Neto e Vasco Cabral, para que se integrassem nas fileiras da luta armada nos seus países; através da ARA, fragilizou o aparelho militar do colonialismo; contribuiu como nenhum outro para a consciencialização dos militares, que em Abril de 1974 voltaram as armas contra o inimigo comum – a ditadura fascista e colonialista.
Esta solidariedade não terminou com a Revolução e as independências. Quando outros apostavam na ingerência, na provocação e na promoção de soluções neocolonialistas, mais ou menos assumidas, os comunistas mantiveram-se firmes no apoio aos novos países, à sua liberdade, ao seu direito à paz e ao desenvolvimento soberano. Tantas vezes sozinho, denunciou agressões e golpes, desvendou cumplicidades, desenvolveu a solidariedade.
Isto é História. O resto… é conversa.