Instigadores da guerra

Pedro Guerreiro

É urgente parar de instigar a guerra

Tal como se verificou em todas as guerras – da Jugoslávia à Síria –, que com êxtase apoiou, o Parlamento Europeu, ou melhor, a maioria dos deputados que integram os seus grupos parlamentares – que têm, no essencial, sustentado o rumo da União Europeia e as suas políticas –, estão de novo na dianteira do suporte à instigação da guerra, agora na Ucrânia, clamando pelo prolongamento e agravamento deste conflito que já dura há oito anos, com o sofrimento e destruição que encerra, particularmente para o povo ucraniano, e as graves consequências e perigosos riscos que comporta para os povos da Europa e do mundo.

Foi o que aconteceu mais uma vez, quando ébrio de propaganda de guerra e seguindo os passos de outrem, o Parlamento Europeu adoptou – com os (habituais) votos favoráveis da extrema-direita e direita, aos ditos «liberais», «sociais democratas» e «verdes» – uma resolução que propõe o «reconhecimento da Federação da Rússia como um Estado patrocinador do terrorismo». Resolução que, como já foi correctamente sublinhado, para além de ser juridicamente inconsequente, procura obstaculizar o urgente diálogo com vista à resolução negociada do conflito, prega pela continuação e incremento da política de confrontação, cerco e isolamento da Rússia de modo a dificultar necessários e possíveis entendimentos e o desanuviamento e normalização das relações internacionais.

Uma resolução que, entre outros inquietantes desvarios e por proposta dos «verdes» e os votos favoráveis dos «liberais» e «sociais-democratas», enuncia o propósito de proibir tudo o que possa ser considerado como sendo diferenciado, discordante ou oposto à propaganda de guerra, diariamente destilada pelos seus arautos nos principais meios de comunicação.

Do mesmo modo que procura proclamar um pretenso carácter extraterritorial da política de confrontação e guerra, apelando abertamente e de forma inaceitável à pressão e chantagem sobre os países que tenham uma posição própria sobre o relacionamento com a Rússia e as sanções impostas pela UE.

Tal como ficou exposto na sinistra e gravíssima provocação em torno do míssil ucraniano que atingiu a Polónia, também a resolução do Parlamento Europeu mostra até onde nos pretendem levar aqueles que impuseram o incessante alargamento da NATO ao Leste da Europa e não hesitaram em recorrer a grupos fascistas e nazis para impor um golpe na Ucrânia e instituir um poder xenófobo e belicista que, não se importando de sacrificar e martirizar o povo ucraniano, se assume como uma autêntica e esfuziante tropa de choque da estratégia dos EUA de confrontação e guerra contra a Rússia.

Por isso é tão importante continuar a afirmar, como o PCP afirma, que é urgente que os EUA, a NATO e a União Europeia cessem de instigar e alimentar a guerra na Ucrânia e que se abram vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando alcançar uma solução política, a resposta aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento na Europa, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia.

O caminho para a paz passa pelo alargamento desta tomada de consciência, rejeitando a rumo para o abismo para onde os EUA, a NATO e a UE pretendem empurrar a Humanidade.





Mais artigos de: Opinião

Três notas e um míssil

O recente episódio do míssil-russo-que-caiu-na-Polónia-mas-afinal-era-ucraniano, que animou as hostes mediáticas durante uns dias, não deve ser encarado com ligeireza, sendo útil que suscitasse algumas reflexões. Aqui ficam três. 1. Entre os que – dizem-nos – são nossos «amigos» e «aliados», há quem sonhe com a Terceira...

Carro vassoura

No âmbito da discussão e aprovação do OE para 2023, Luis Montenegro, sem nenhuma ideia de fundo verdadeiramente alternativa que pudesse contrapor à proposta do PS, numa tirada de raro rasgo político, lá voltou a cair numa das suas contradições insanáveis, ao tentar apresentar-se como oposição à própria essência da...

Como se brinca em Portugal?

A Escola Superior de Educação de Coimbra, o Instituto de Apoio à Criança e o site Estrelas e Ouriços realizaram, pela segunda vez, um inquérito a pais sobre a forma como as crianças até aos dez anos brincam. O primeiro tinha sido realizado em 2018 e as conclusões do segundo foram apresentadas no dia 24. Apesar dos 1600...

A exploração

Somos obrigados a voltar ao tema da imigração e das condições de escravatura em que muitos deles se encontram, não tanto pela operação policial que levou à detenção de mais de três dezenas de pessoas, mas por aquilo que dela decorre. Em primeiro lugar temos de insistir na perplexidade que aqui já registámos em duas...