Carro vassoura

Manuel Rodrigues

No âmbito da discussão e aprovação do OE para 2023, Luis Montenegro, sem nenhuma ideia de fundo verdadeiramente alternativa que pudesse contrapor à proposta do PS, numa tirada de raro rasgo político, lá voltou a cair numa das suas contradições insanáveis, ao tentar apresentar-se como oposição à própria essência da política que defende, a política de direita.

Acusando o Governo PS de ter colocado Portugal numa posição de carro vassoura da Europa, afirmou, taxativo: «Temos vindo a chegar-nos para a cauda da Europa. Portugal em vez de estar a caminho do pelotão da frente, está numa posição de carro vassoura da Europa e a ser ciclicamente ultrapassado».

Ora, os grandes problemas nacionais, aqueles que determinam verdadeiramente as fragilidades da economia do País, são resultado da política de direita que desde há décadas é da responsabilidade do PS, PSD e CDS (a que se juntaram mais recentemente os projectos reaccionários do Chega e IL). No plano social, lá estão também PS, PSD, Chega e IL alinhados para, entre tantas outras matérias, não permitir o aumento geral dos salários e a valorização das reformas e pensões. A nível político, é vê-los convergir na abertura do processo de revisão constitucional, a pensar na mutilação de princípios e direitos, que, na verdade, nunca respeitaram.

Como o PCP fez questão de referir na AR no passado dia 25, no confronto entre trabalho e capital, PS, PSD, Chega e IL afinam pelo mesmo diapasão: proteger os interesses e lucros dos grupos económicos à custa da degradação das condições de vida do povo.

É por isso que o esforço do PS, PSD, Chega e IL para transformar Portugal no carro vassoura dos direitos não vai ter êxito duradouro. Os trabalhadores e o povo não se resignam. E as quatrocentas propostas do PCP, agora rejeitadas na AR, não vão ficar por aqui. Vão fazer o seu caminho, estarão presentes na iniciativa do PCP e na luta dos trabalhadores, da juventude, dos pequenos empresários e agricultores, dos intelectuais, dos trabalhadores da cultura, das forças de segurança, como aconteceu na passada sexta-feira.

Os trabalhadores e o povo vão continuar a lutar por uma vida melhor, por um País no «pelotão da frente» do desenvolvimento e do progresso social. Para que a política de direita seja verdadeiramente «vassourada».




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