A exploração
Somos obrigados a voltar ao tema da imigração e das condições de escravatura em que muitos deles se encontram, não tanto pela operação policial que levou à detenção de mais de três dezenas de pessoas, mas por aquilo que dela decorre.
Em primeiro lugar temos de insistir na perplexidade que aqui já registámos em duas anteriores ocasiões. Havendo trabalhadores migrantes no nosso País, sendo eles mal pagos, trabalhando em condições sub-humanas, algumas vezes em situação de sequestro, não trabalharão em nenhuma herdade em concreto? Não apanham azeitona, vigiam regas, fazem mondas, cuidam de frutos, ou tratam de animais? E não são essas azeitonas, as plantas que eles amanham, os frutos que apanham, os animais que ajudam a engordar que alimentam os lucros das explorações agrícolas onde trabalham, de novo, de sol a sol? Não menorizando o abjecto papel das redes de tráfico de seres humanos, não aceitaremos que passem incólumes aqueles que se apropriam da riqueza criada por estes e por outros trabalhadores.
O que nos leva à questão seguinte, uma vez que, tendo ouvido Marques Mendes dizer que «isto é quase escravatura, é exploração», importará lembrar (não a ele que sabe bem do que fala e do que falamos nós, mas a incautos que possam cair no conto vigário) que explorados são todos que trabalham por conta de outrem e produzem riqueza que é apropriada pelo capital, na parte do trabalho não pago.
E que, em síntese, justifica ainda a última anotação. É que só se compreende que, sucessivamente, venham a público estas situações, de que são exemplos os casos de Odemira e das centenas de timorenses que, nos últimos meses, chegaram ao País sem quaisquer condições, exactamente porque é sobre a exploração destes e de todos os trabalhadores que se ergue o edifício desumano do capitalismo que, por estes dias, fala de direitos humanos noutras paragens, para que ninguém repare nos ataques que aqui lhes continua a perpetrar.
E é contra essa exploração que se continua a erguer, todos os dias, a luta de classes.