Notoriedade

Gustavo Carneiro

Vieram do Minho e do Algarve, dos Açores e das Beiras, das áreas metropolitanas e da Madeira, do Alentejo e de Trás-os-Montes, do Oeste e até do estrangeiro. Eram homens, mulheres e jovens. Trabalhadores, reformados e estudantes. Operários e professores, profissionais de saúde e músicos, estafetas e investigadores, advogados e actores, pescadores e empresários. Trabalham em supermercados e hospitais, em fábricas e escolas, em armazéns e teatros, em lojas e explorações agrícolas.

Lá estiveram os paulos e as joanas, as marias e os manueis, as ritas e os franciscos, os artures e as sofias – e tantos, mas tantos outros. Ali, como todos os dias estão no sindicato e na associação, na comissão de trabalhadores e de moradores, na colectividade e na autarquia, na célula de empresa ou local de trabalho, na luta e na organização política que lhe dá corpo – e sentido.

Da tribuna, como diariamente em reuniões e plenários, em cadernos reivindicativos e acções de denúncia pública, referiram-se ao salário que é urgente aumentar, à reforma que não chega para quase nada, ao transporte público que não existe, à água que deve permanecer pública, à habitação transformada em luxo, à saúde cada vez mais negócio de poucos em vez de direito de todos. Defenderam a escola pública e rejeitaram que a cultura seja apenas um lucrativo e oco entretenimento. Insistiram que a um posto de trabalho permanente deve corresponder sempre um vínculo efectivo. Recordaram que as crianças não terão direitos se os seus pais não os tiverem e que a liberdade, a democracia e a paz não são dados adquiridos.

À semelhança do que fazem no dia-a-dia, junto das pessoas, ali denunciaram injustiças e discriminações, deram voz a angústias e preocupações, reafirmaram princípios e soluções.

Informaram os seus camaradas do que correu bem – e menos bem. Deram a conhecer dificuldades e obstáculos e juntos definiram caminhos para os superar. Falaram das lutas travadas e dos seus objectivos, do que se alcançou no imediato e do que ficou de semente para o futuro, de avanços mas também de recuos, dos novos combatentes que surgem – e lhes dão mais força e asseguram continuidade.

Referiram-se às quotas e aos avantes!, às células e aos novos militantes, às organizações locais e à necessária ligação à vida que pulsa à sua volta. E a tantas coisas mais…

De todos estes, que no fim-de-semana participaram na Conferência Nacional do PCP, dirão alguns que lhes falta presença mediática, que são desconhecidos do público, que não têm notoriedade. Enganam-se: conhecem-nos bem onde quer que haja um problema, onde se trava um protesto, onde a luta germina.

Precisamente onde as televisões, as rádios e os jornais optam por não estar.




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