Perspectivas

Manuel Gouveia

Os trabalhadores da EDP reclamam um aumento extraordinário, no salário, para fazer face ao brutal aumento do custo de vida. Exigem um aumento intercalar de 150 euros por mês. Claro que o patronato diz que isso é absolutamente impensável. Alguém lhe fez as contas: 12236 trabalhadores no grupo EDP, 150 euros de aumento para todos eles, mais os 23% patronais para a Segurança Social, vezes 14 meses, dá 31 605 588 euros. Ou seja, se fosse aplicado o aumento intercalar com retroactivos a Janeiro, estaríamos a falar de 31,6 milhões de euros.

O que significa que a EDP, que lucrou 518 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano só lucraria cerca de 660 milhões de euros em 2022 em vez dos 690 milhões que se prepara para lucrar. Verdadeiramente impensável, de facto.

Dir-me-ão alguns: «Tá bem, mas nem todas as empresas têm os lucros da EDP. A maioria das empresas não seria capaz de pagar aumentos salariais dessa monta.» Vamos por partes. Sim, poucas empresas têm os lucros da EDP (mas praticamente todas contribuem para eles, como contribuem para os lucros da banca, das seguradoras, das petrolíferas e das telecomunicações). Por outro lado, todas essas empresas enfrentaram o aumento dos custos de produção na energia, nas telecomunicações, no preço do dinheiro. E fazem reflectir nos preços das mercadorias ou serviços vendidos esse aumento dos custos de produção.

Mas estas empresas, tal como a EDP, responderão sempre que o aumento do preço da força de trabalho é impensável. Seja de 150/mês ou 90/mês. Quando o que é impensável é que perante uma inflação de 10% os trabalhadores aceitem ver o seu salário reduzir, na prática, 10%.

A verdade é que se uma empresa não aceitar pagar o aumento da factura da electricidade, deixa de poder usar electricidade, e encerra. Mas essa mesma empresa tende a acreditar que pode não aumentar os salários e continuar a funcionar. Só a greve lhe demonstrará o contrário.



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