Polónia: «Erro» ou provocação?

Ângelo Alves

Durante a tarde e noite de dia 15 a comunicação social repetiu até à exaustão a «notícia» de um «ataque russo» em território polaco «com mísseis». Zelensky afirmou de imediato: «o terror russo não se limita às nossas fronteiras nacionais. Mísseis russos atingiram a Polónia.» O seu ministro dos Negócios Estrangeiros exigiu uma «cimeira da NATO com a participação da Ucrânia» e o «fornecimento de aviões de guerra modernos (…) bem como sistemas de defesa aérea». O conselheiro de Zelensky foi ainda mais longe: «não foi um acidente, mas sim um “olá” deliberadamente planeado (…) que acontece quando (…) os políticos se envolvem na “pacificação” do agressor».

Durante horas ignorou-se o que a observação dos destroços tornava óbvio: era um míssil S300-P, antiaéreo, de facto de fabrico soviético, como muito do armamento utilizado pela Ucrânia, que tem um alcance máximo de 120Km, e que, portanto, era impossível de ter sido disparado pela Rússia.

A NATO, os EUA e a Polónia sabiam deste facto, tal como tinham exacto conhecimento sobre o local de disparo e trajectória do míssil, dados os imensos meios de vigilância e inteligência concentrados na região. A evidência foi tão grande que todos tiveram de mudar a agulha, abandonando a provocatória histeria da activação do artigo 4º e mesmo 5º da NATO. Resta a pergunta, tratou-se de um erro que a Ucrânia tentou esconder com uma provocação política, ou foi ele mesmo uma provocação visando forçar o envolvimento directo da NATO na guerra e tentar forçar a instalação pela NATO de uma no fly zone na Ucrânia sob o pretexto da protecção de um membro da NATO?

Na guerra raramente há coincidências e o facto é que este incidente acontece quando os responsáveis dos serviços secretos russo e norte-americano se sentam à mesa para falar, quando o G20 estava reunido e Biden e Xi Xinping tinham falado pela primeira vez. Ou seja, perante tímidos sinais de desanuviamento entre os poderes que podem de facto decidir do destino deste conflito, alguém tomou a decisão de criar um facto que tenta alimentar a escalada e alargar o conflito. Isto dá mais uma vez razão à análise do PCP sobre a natureza e características deste conflito.




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