Pedro Guerreiro, do Secretariado do Comité Central

Evolução da situação internacional - Perigos e potencialidades

A evolução da situação internacional comprova o acerto de aspectos essenciais apontados no XXI Congresso do nosso Partido, realizado em 2020.

Sublinhávamos então que o impacto da pandemia acentuava as tendências que caracterizavam a situação internacional, expondo com uma ainda maior acutilância as contradições do capitalismo, confirmando a sua natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora, a sua incapacidade de dar resposta aos problemas da Humanidade.

Sublinhávamos também que, decorrendo da crise estrutural do capitalismo e do incremento da violenta ofensiva do imperialismo, a situação internacional conhecia «em termos gerais, um agravamento, nomeadamente quanto à agudização da tensão internacional, ao avanço de forças reaccionárias e fascizantes e aos perigos de guerra».

A realidade, os rápidos desenvolvimentos verificados nos últimos dois anos, demonstram a justeza da nossa análise.

Efectivamente, o grande capital instrumentalizou a situação de pandemia para agravar a exploração e o retrocesso social, acentuar a concentração e a centralização da riqueza, e lançar sobre os trabalhadores e os povos os custos de uma crise que se anunciava, com o consequente e brutal agravamento das desigualdades.

De facto, ao longo deste período foi levada mais longe a falsificação, a discriminação, a manipulação e a censura de informação, a propaganda de guerra, a instigação do ódio e do medo, o branqueamento do fascismo, o fomento de concepções reaccionárias e do anticomunismo, a promoção de forças de extrema-direita e fascizantes, o ataque às liberdades e à democracia.

Na verdade, os EUA, com as outras grandes potências capitalistas reunidas no G7, perante a sua crise e declínio relativo, não olham a meios para impor o seu domínio hegemónico mundial, procurando conter, e se possível reverter, o processo de rearrumação de forças que tem lugar no mundo e contrariar a resistência e luta dos trabalhadores e dos povos.

Agressão e ingerência

É face às suas dificuldades, que o imperialismo norte-americano, com o particular alinhamento e a subordinação da NATO e da União Europeia, decidiu elevar para um ainda mais grave patamar a sua estratégia de domínio, procurando pelo incremento da coerção e da violência impedir opções soberanas de desenvolvimento e de relacionamento internacional e impor o isolamento político e económico de países e povos, com vista a controlar as suas riquezas.

Uma perigosa estratégia que encenando o perigo de um conflito de catastróficas proporções que se multiplica em acções de ingerência e agressão contra todos aqueles que, independentemente das suas opções económicas e sociais, não se submetem aos ditames do imperialismo, e em que se insere a escalada de confrontação e guerra contra a Federação Russa e a crescente política de confrontação contra a República Popular da China.

Por muito que alguns procurem encobrir, a guerra na Ucrânia – uma guerra que urge parar e que nunca deveria ter começado - é expressão desta escalada de confrontação dos EUA e da NATO contra a Rússia, em que a Ucrânia é usada como instrumento da estratégia do imperialismo norte-americano.

Uma espiral de confrontação que tem nas sanções – saliente-se, impostas à margem das Nações Unidas – um dos seus principais instrumentos, que tornam particularmente evidente o alinhamento e subordinação da União Europeia à estratégia de domínio dos EUA, aceitando os profundos impactos económicos particularmente nos países da Europa e impondo sacrifícios aos trabalhadores e aos povos, atacando os seus direitos.

Não à guerra, sim à paz

Por maior que seja a mentira, deturpação, caricatura, do bolsar do ódio anticomunista dos que nutrem e animam concepções e intuitos antidemocráticos e fascizantes:

- O PCP continuará a afirmar a sua corajosa e firme posição de sempre em defesa da paz e contra o fascismo e a guerra;

- O PCP continuará a afirmar a exigência do fim da instigação da guerra na Ucrânia por parte dos EUA, da NATO e da União Europeia e a urgência da abertura de vias de negociação com os demais intervenientes, nomeadamente a Federação Russa, visando uma solução política para o conflito, a resposta aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento na Europa, o cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final de Helsínquia;

Por muito que incomode quem aplauda aqueles que são os primeiros e principais responsáveis pelo agravamento da situação no mundo, aqueles que cinicamente «atiram a pedra e escondem a mão»:

- O PCP continuará empenhado no desenvolvimento da luta contra as agressões e as ingerências do imperialismo; contra o militarismo e a corrida armamentista; contra o alargamento da NATO e pela sua dissolução; contra a militarização da União Europeia;

- Como continuará empenhado no reforço da luta pelo estabelecimento de acordos de desarmamento; pela abolição das armas nucleares.

Por mais que incomode os arautos do imperialismo, os que, procurando situar apenas nesta guerra as causas dos grandes problemas da Humanidade, visando desresponsabilizar o capitalismo, aprofundar a exploração e a especulação, e dar cobertura à continuação da política de confrontação e domínio:

- O PCP continuará empenhado no fortalecimento da solidariedade com os povos que resistem ao imperialismo e lutam em defesa dos seus direitos e soberania – como com Cuba, a Palestina ou o Sara Ocidental, entre tantos outros países e povos; por uma nova ordem internacional de paz, soberania e progresso social;

- Como continuará empenhado em que Portugal rompa com a subordinação aos EUA, à NATO e à UE, e tenha uma política externa soberana e independente, assente nos princípios da paz, da amizade e da cooperação com todos os povos do mundo, como consagra a Constituição da República.

Resistir e lutar

Se a evolução da situação internacional encerra sérios e perigosos desenvolvimentos, também sublinhámos no nosso XXI Congresso que nela coexistem reais potencialidades para o desenvolvimento da luta por avanços progressistas e revolucionários.

A realidade demonstra que, por todo o mundo, prossegue a resistência e a luta dos trabalhadores e dos povos – nas mais variadas condições, adoptando variadas formas e apontando diversificados objectivos imediatos –, uma resistência e luta que assume a maior importância e que é essencial valorizar.

Consciente dos perigos, mas também das potencialidades que a situação internacional comporta, o PCP prossegue empenhado no fortalecimento do movimento comunista e revolucionário internacional e no aprofundamento da sua cooperação, solidariedade recíproca e unidade na acção, assim como na convergência de uma ampla frente anti-imperialista, que detenha a ofensiva do imperialismo e abra caminho à construção de uma nova ordem internacional de paz, soberania e progresso social.

Prosseguindo a luta pela emancipação social, articulando a luta por objectivos imediatos com a luta por objectivos mais avançados, independentemente das fases e etapas e das formas que cada processo vier a assumir de acordo com a situação concreta de cada país, é com convicção e confiança que o PCP reafirma que é a substituição do capitalismo pelo socialismo que, no século XXI, continua como a mais sólida perspectiva de evolução da Humanidade.

É este caminho que o PCP continuará, com inabalável determinação, alicerçado no firme compromisso com os trabalhadores e o povo português, honrando a sua dimensão e percurso de partido patriótico e internacionalista.

 



Mais artigos de: Em Destaque

Uma força de luta com raízes na vida

A Conferência Nacional do PCP, realizada este fim-de-semana em Corroios, no concelho do Seixal, constituiu uma vibrante manifestação de coesão e vitalidade de um colectivo que se quer cada vez mais ligado à vida. «Tomar a iniciativa, reforçar o Partido, responder às novas exigências» é, mais do que um lema, um plano da acção.

Abrir caminhos, dar esperança e confiança na luta por uma vida melhor

Estamos a meio dos trabalhos da Conferência Nacional.

No seguimento da fase preparatória e partindo das conclusões do XXI Congresso, reafirmando a nossa identidade comunista, a natureza de classe, objectivos e princípios, envolvemos o Partido, aprofundámos a reflexão, construímos soluções, ao mesmo tempo que incentivámos e mobilizámos para a luta, uma luta que aqui esteve presente e que saudamos.

Com a aprovação da resolução, vamos continuar o nosso trabalho sobre todas e cada uma das linhas de intervenção agora decididas, tomar a iniciativa, responder às novas exigências e reforçar o Partido que queremos ainda mais ligado à vida e aí ir buscar mais força.

As decisões que estamos a tomar, reforçando o Partido, são uma necessidade dos trabalhadores, das populações, da juventude, dos democratas e patriotas.

Um Partido mais forte e com maior influência é o garante dos direitos e dos anseios dos trabalhadores e do povo, e de todos que se empenham pela defesa e aprofundamento da democracia.

Temos uma enorme responsabilidade mas estamos à altura dessa responsabilidade.

E, se dúvidas houvesse, é pôr os olhos na Conferência.

Desenvolver a convergência com democratas e patriotas

Um país com melhores salários e carreiras valorizadas, em que o desenvolvimento integral das crianças é uma preocupação central, que encoraja os sonhos da juventude e em que se envelhece com dignidade. Um país com serviços públicos que garantem direitos a todos e em que a cultura é factor de...

Números da Conferência

Na Conferência Nacional estiveram presentes 903 delegados, informou Sofia Grilo, em nome da Comissão de Verificação de Mandatos. Destes, 720 foram eleitos nas 390 assembleias plenárias expressamente convocadas para esse efeito e 198 eram delegados por inerência: 128 membros do Comité Central, nove da Comissão Central de...

Sobre a reunião do Comité Central realizada na noite de 12 de Novembro

A Conferência Nacional, pelos seus conteúdos e objectivos dá-nos confiança, determinação e força. Pelo que aqui nos foi transmitido pela voz dos delegados sobre os problemas que os trabalhadores e o povo enfrentam, as suas aspirações e reivindicações. A resistência e as lutas de carácter...

O 50.º aniversário da Revolução de Abril

(…) Afirmar os direitos e valores de Abril é de extraordinária importância para contrariar as tentativas de apagamento da sua natureza, do seu alcance e características ímpares, para derrotar aqueles que procuram reescrever ou apagar o significado de Abril. A afirmação de cada um desses...

Resolução é instrumento de acção, mobilização e luta

Aprovada com uma abstenção ao final da manhã de domingo, a Resolução da Conferência Nacional inclui as linhas prioritárias de acção do Partido, a ser dinamizada de forma integrada e em múltiplas direcções. No que concerne ao objectivo de responder aos problemas mais urgentes, a conferência apontou a necessidade de...

O trabalho da Comissão de Redacção da Resolução

(…) Foram realizadas centenas de reuniões e assembleias. À comissão de redacção chegaram centenas de propostas, umas de natureza concreta, outras de carácter geral, às quais se somam as actas das assembleias electivas e de reuniões de diversos organismos. Todo este material, permitiu conhecer...

Afirmação do Partido é tarefa de todos os dias

Neste tempo exigente e desafiante, aqui estamos centrados na realidade, a superar obstáculos, determinados na acção, a perspectivar o futuro. Somos o Partido Comunista Português, com a sua identidade própria, a identidade comunista, de partido da classe operária e de todos os trabalhadores, o...