Bolcheviques

Manuel Gouveia

Na aparência, estamos perante um daqueles acasos: o mais importante movimento político do século XX, que lideraria a maior das Revoluções, faria a cisão com a apodrecida II Internacional criando a Internacional Comunista e dando origem ao Movimento Comunista Internacional, recebeu o seu nome da correlação de forças num determinado congresso do POSDR, onde os internacionalistas ficaram com a maioria (bolshoi, em russo).

Mas essa é a aparência da coisa. A razão porque o nome colou é mais funda. Os bolcheviques lutaram por ser a maioria no POSDR, e foram-no. Lutaram por ser a maioria no seio da classe operária, e conseguiram-no. Lutaram por alcançar a maioria nos Sovietes, inicialmente dominados pela pequena-burguesia, e só avançaram para a Revolução Socialista quando atingiram essa maioria. Lutaram depois, já com o poder soviético, pelo apoio maioritário e consciente das classes e camadas exploradas da Rússia. E conseguiram-no. Sonharam um Estado onde a maioria do povo – os trabalhadores – detinha o poder, e foram a vanguarda desse povo na construção desse poder, o poder soviético.

Os bolcheviques nunca foram uma minoria enquistada no seu próprio umbigo a falar em nome de uma maioria. Eles eram essa maioria a tomar consciência de si própria.

Eles viram sempre – a cada passo – a maioria objectiva que era necessário transformar em maioria consciente de si própria actuando de acordo com os seus interesses e aspirações próprios.

Ser bolchevique é perceber que essa maioria existe. Mesmo neste século XXI marcado pelo colossal esforço do capital monopolista para retirar perspectivas e confiança aos que podem mudar o mundo.




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