COP 27: países desenvolvidos não podem continuar a sacudir a água do capote!

Vladimiro Vale (Membro da Comissão Política)

Está a decorrer, em Sharm El Sheikh, no Egipto, a COP 27 – Conferência no âmbito das Convenções Quadro sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas.

O capitalismo não é nem será verde

O PCP tem vindo a alertar que os objectivos de redução global de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), estabelecidos nas sucessivas COP, são insuficientes e que os centros de decisão do capital tudo fazem para esconder as suas responsabilidades na degradação ambiental, investindo na responsabilização individual, enquanto vão sofisticando mecanismos para revitalizar a acumulação de capital, taxar comportamentos individuais e encontrar novas/velhas formas de se apropriarem de recursos naturais, não resolvendo e, muitas vezes, agravando os problemas ambientais. O agravamento dos problemas tem caminhado de braço dado com a acentuação das desigualdades entre classes e entre países.

Os cem maiores grupos económicos são responsáveis por 71 por cento das emissões industriais de gases com efeito de estufa. Per capita, os EUA emitem duas vezes mais GEE do que a China e oito vezes mais do que a Índia, sendo que do ponto de vista histórico os EUA são de longe o principal poluidor, com 20 por cento das emissões mundiais desde 1850. No entanto, as sucessivas COP têm-se afastado do princípio de «responsabilidade comum, mas diferenciada» e caminhado no sentido de nivelar as responsabilidade dos principais emissores em termos per capita, com os chamados países em desenvolvimento.

Dívida é garrote, não é ajuda!

Tal como o PCP tem vindo a denunciar, os esquemas de financiamento fixados nas COP têm significado mais endividamento para os «países em desenvolvimento», enquanto que para o capital significam subvenções. O primeiro teste de stress climático do Banco Central Europeu (BCE) ao sector bancário, que apontou para uma estimativa de «perdas conjuntas de cerca de 70 mil milhões de euros para os 41 bancos» com as alterações climáticas, e tem servido para reclamar o apoio ao «desenvolvimento de mercados de capitais verdes, necessários para financiar uma economia hipocarbónica». Ou seja, para legitimar a transferência de fundos para o sistema financeiro, agora sob a justificação ambiental.

Mercado garante lucros, não garante políticas ambientais!

Notícias recentes dão nota de mais um falhanço de um esquema de transação de créditos de carbono. Após o esquema europeu, que acabou por ser responsável pelo aumento de emissões, surgem notícias semelhantes da Austrália. Projectos que tencionavam regenerar florestas australianas para absorver dióxido de carbono, aos quais foram atribuídos centenas de milhões de dólares, acabaram a ser responsáveis pelo declínio da cobertura arbórea, o que levanta dúvidas sobre a integridade do sistema de créditos de carbono, em que o governo federal da Austrália e os negócios poluidores se baseavam para cumprir as metas de redução de gases com efeito de estufa.

O capitalismo não é (nem será) verde!

A denúncia da estratégia que o imperialismo desenvolve, de ingerência e agressão, de escalada da política de confrontação e de guerra, que aumenta o perigo de uma confrontação global, encontra-se surpreendentemente arredada do discurso em torno das questões ambientais. É cada vez mais claro que a chamada «economia verde» se destina mais a revitalizar o capitalismo e menos a resolver os problemas ambientais.

A denúncia da degradação ambiental, se não for acompanhada de forte denúncia dos esquemas do «capitalismo verde», tende a legitimá-los e a fomentar a sua aceitação à escala de massas, pelo que a exigência de medidas concretas de promoção do equilíbrio ambiental têm que ser acompanhadas com a denúncia da incapacidade do capitalismo para responder aos problemas da humanidade, incluindo os problemas ambientais.




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