Sabotagem confirmada nos gasodutos Nord Stream

É cada vez mais evidente a deliberada destruição dos gasodutos Nord Stream, que transportavam gás directamente da Federação Russa para a Alemanha. Apesar de ocultações e acusações infundadas, torna-se evidente quem ganha com o sucedido.

A Rússia continua a ser excluída das investigações

A Suécia não vai partilhar com a Rússia os avanços registados na investigação que tem em curso sobre as explosões nos gasodutos Nord Stream. A primeira-ministra Magdalena Andersson justificou a recusa do seu governo ao pedido de esclarecimentos russo com a «confidencialidade» da investigação.

Depois de terem sido detectadas fugas nos dois gasodutos que ligam a Federação Russa à Alemanha através do Mar Báltico – duas na Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Suécia e outras tantas na ZEE da Finlândia –, a Marinha sueca iniciou uma investigação com recurso a sondagens submarinas: há cerca de duas semanas, os serviços secretos do país garantiam que dessa investigação saíram reforçadas as suspeitas de sabotagem.

O interesse das autoridades russas em participar nas investigações tinha já sido manifestado no próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas pelo vice-primeiro-ministro russo, Sergei Vershinin. Essa intenção foi depois transmitida directamente, por carta, ao governo sueco, que recusou o pedido.

Também o representante permanente da República Popular da China nas Nações Unidas, Geng Shuang, defendeu uma investigação «imparcial» e «objectiva» às explosões, tendo em conta a elevada probabilidade de terem sido provocadas deliberadamente:

«Observamos que as informações actuais indicam que as fugas [nos gasodutos] não foram acidentais, mas provavelmente resultaram de uma sabotagem. Se for verdade, constituiria um ataque a instalações civis multinacionais e oleodutos submarinos, em violação do direito internacional», afirmou o diplomata chinês.

Sem fornecimento no Inverno

Não restam hoje dúvidas acerca do carácter deliberado da inutilização dos dois gasodutos. As primeiras notícias davam conta de fugas de gás, mas rapidamente as suas causas se tornaram evidentes, depois de terem sido registadas detonações por estações sísmicas suecas, dinamarquesas, finlandesas e norueguesas.

Logo a 27 de Setembro, o director da Rede Sísmica Nacional da Suécia, Bjorn Lund, confirmou que as fugas de gás não resultaram de actividade sísmica, mas de explosões ocorridas na água: a primeira ainda no dia 26, a sudeste da ilha dinamarquesa de Bornholm e a segunda, a noroeste dessa mesma ilha, foi muito mais forte, com uma potência equivalente a um sismo de magnitude de 2.3.

As explosões ocorreram quase em simultâneo com a entrada em funcionamento do novo Gasoduto Báltico, que faz a ligação entre a Noruega e a Polónia.

Os dois gasodutos Nord Stream encontravam-se cheios de gás natural, mas não estavam a fornecer. O Nord Stream 2, concluído há cerca de um ano, não chegou a entrar em funcionamento, na sequência da suspensão unilateral decidida pela Alemanha pouco antes de 24 de Fevereiro, data do início da intervenção militar russa na Ucrânia. Já o Nord Stream 1, em funcionamento há mais de uma década, continuou a fornecer gás para a Alemanha até final de Agosto, sendo então interrompido devido às sanções impostas pelos EUA contra empresas alemãs que o operavam.

Apesar das explosões, o presidente russo, Vladimir Putin, garante que o seu país está preparado para retomar o fornecimento de gás à Europa. Intervindo, no dia 12, num fórum sobre energia em Moscovo, o chefe de Estado russo referiu que um dos dois tubos de distribuição do Nord Stream 2 permanece pressurizado e, assim, pronto para voltar a ser usado a curto prazo. As explosões nos gasodutos foram «actos terroristas internacionais» que apenas beneficiam os EUA, a Polónia e a Ucrânia.

Sem os dois gasodutos do Báltico, realçou, a importância dos que passam pela Polónia e Ucrânia, «e que a Rússia construiu por conta própria», sai reforçada. Já as vantagens norte-americanas são evidentes: «podem distribuir a sua energia e preços elevados». Para Vladimir Putin, são precisamente «aqueles que querem romper os laços entre a Rússia e a União Europeia» a estar por detrás da sabotagem do Nord Stream.

Narrativas

Os efeitos da política de sanções, que afectam de modo particularmente grave os povos e as economias dos países da União Europeia, tornam cada vez mais evidentes os propósitos dos EUA de impor o seu domínio à Alemanha e à própria UE.

O ministro da Economia francês criticou há dias o elevado preço a que os Estados Unidos da América estão a vender o seu gás natural aos países europeus. Para Bruno Le Maire, é «inaceitável» que os EUA vendam gás liquefeito por preços que chegam a ser quatro vezes superiores ao que é praticado nos próprios EUA. Num debate parlamentar recente, o ministro francês afirmou mesmo que «não devemos permitir que o conflito na Ucrânia resulte na dominação económica norte-americana e num enfraquecimento da Europa».

Também a antiga chanceler alemã Angela Merkel proferiu declarações que não se encaixam na narrativa do imperialismo. Intervindo numa iniciativa comemorativa do 77.º aniversário do jornal Suddeutsche Zeitung, no dia 7, afirmou que uma paz sustentável na Europa só será alcançada se a Rússia fizer parte dela.




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