Acusações e hipocrisia na Assembleia Geral da ONU

Na aber­tura de mais uma sessão da As­sem­bleia-Geral das Na­ções Unidas, a 77.ª, par­ti­ci­param em Nova Iorque cen­tena e meia de altos re­pre­sen­tantes de países de todos os con­ti­nentes. De par­ti­cular sig­ni­fi­cado re­ves­tiram-se as in­ter­ven­ções dos re­pre­sen­tantes russo e norte-ame­ri­cano.

O mi­nistro dos Ne­gó­cios Es­tran­geiros da Fe­de­ração Russa, Ser­guéi La­vrov, des­tacou que os povos de­fendem os seus in­te­resses com uma nova ar­qui­tec­tura mul­ti­polar que põe fim ao mo­delo uni­polar que be­ne­ficia apenas uns poucos países. A Rússia, afirmou, insta os res­tantes Es­tados a cons­truírem uma fu­tura ordem mun­dial justa, sem chan­ta­gens nem in­ti­mi­da­ções.

«Hoje de­cide-se a questão da fu­tura ordem mun­dial», con­si­derou. «A questão é se será uma ordem com uma he­ge­monia que obrigue todos a viver se­gundo as suas “re­gras” que só a ela be­ne­fi­ciam ou será um mundo de­mo­crá­tico e justo, sem chan­ta­gens nem in­ti­mi­da­ções in­de­se­já­veis, sem ne­o­na­zismo nem ne­o­co­lo­ni­a­lismo», in­ter­rogou-se La­vrov. E res­pondeu: «A Rússia elegeu fir­me­mente a se­gunda opção e faz um apelo para que se tra­balhe na sua apli­cação».

O di­plo­mata russo des­tacou que a si­tu­ação in­ter­na­ci­onal no âm­bito da se­gu­rança de­te­riora-se ra­pi­da­mente, en­fa­ti­zando que o Oci­dente re­a­liza pro­vo­ca­ções e monta es­pec­tá­culos em vez de en­ta­bular um diá­logo ho­nesto e pro­curar com­pro­missos.

La­vrov acusou os EUA de tentar con­verter todo o mundo no seu «quintal tra­seiro» im­pondo san­ções uni­la­te­rais ile­gais aos países que não estão de acordo. Su­bli­nhou que a rus­so­fobia ad­quiriu pro­por­ções gro­tescas e sem pre­ce­dentes no Oci­dente, que «de­clara aber­ta­mente a sua in­tenção de des­mem­brar a Rússia, de fazê-la de­sa­pa­recer do mapa po­lí­tico mun­dial como en­ti­dade ge­o­po­lí­tica in­de­pen­dente».

Acu­sa­ções e si­lên­cios

Pouco antes, o pre­si­dente dos EUA atacou a Rússia. «Nin­guém ame­açou a Rússia e fi­zemos muito para evitar a con­fron­tação», disse Biden, omi­tindo hi­po­cri­ta­mente os con­tí­nuos alar­ga­mentos da NATO para o Leste da Eu­ropa e a po­lí­tica agres­siva deste bloco po­lí­tico-mi­litar, bem como a re­jeição por parte dos EUA e da NATO de ga­ran­tias de se­gu­rança há muito pe­didas por Mos­covo e uma vez mais re­a­fir­madas no final do ano pas­sado. «Os EUA querem ver esta guerra ter­mi­nada», acres­centou. No en­tanto, se­gundo o Pen­tá­gono, os EUA for­ne­ceram à Ucrânia quase 16 mil mi­lhões de dó­lares em ar­ma­mento.

A pro­pó­sito das re­la­ções com a China, Biden afirmou ci­ni­ca­mente que os EUA se com­por­tarão com «um líder sen­sato» e que não querem «criar um con­flito, nem uma guerra fria», ga­ran­tindo o apego do seu país com o prin­cípio de «Uma Só China», omi­tindo, porém, as re­centes pro­vo­ca­ções norte-ame­ri­canas contra a China, o for­ne­ci­mento de so­fis­ti­cado ar­ma­menmto a Taiwan e as suas pró­prias afir­ma­ções que em caso de um hi­po­té­tico con­flito entre Pe­quim e Taipé, for­ne­ceria apoio a Taiwan.

Biden men­ci­onou ainda a ne­ces­si­dade de des­nu­cle­a­rizar o mundo, apon­tando di­rec­ta­mente à Rússia, à Re­pú­blica Po­pular De­mo­crá­tica da Co­reia e ao Irão, sem re­ferir a res­pon­sa­bi­li­dade prin­cipal que cabe aos EUA na es­ca­lada nu­clear nem adi­antar qual o con­tri­buto que o seu país pode acres­centar para a so­lução do pro­blema.

Em re­lação ao Afe­ga­nistão, con­denou os ta­libãs, em­bora sem re­cordar que os EUA in­va­diram e ocu­param esse país du­rante 20 anos, com as dra­má­ticas con­sequên­cias que se co­nhecem.




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