As receitas e a luta
O jornal Negócios informava a semana passada (16 de Setembro) – suportado em dados divulgados pelo INE – que, no primeiro ano da epidemia, Portugal passou para a oitava posição na lista dos países da UE com maior risco de pobreza e exclusão social em 2021, com mais de 2,3 milhões de portugueses a viverem abaixo do limiar de pobreza, em condições de privação material severa ou com vínculos laborais precários, que as colocam em situação de exclusão social.
No mesmo jornal e no mesmo dia, numa página ao lado, podia ler-se: «com os preços a dispararem, a tendência é de que os trabalhadores reivindiquem melhores salários, para compensar o poder de compra perdido para a inflação. Mas, como já aconteceu no passado, a espiral salários-preços tende a manter a inflação elevada por mais tempo». Adverte, assim, o FMI que eventuais acréscimos salariais vão levar a uma inflação mais duradoura, pelo que, subentende-se, não deve haver aumento dos salários.
Diz o povo que para bom entendedor meia palavra basta. Ou seja, reconhece-se que a pobreza alastra, que o risco de exclusão social aumenta, que os salários se desvalorizam, que a riqueza produzida no País decresce. A única coisa que não se diz é que a pobreza de uns são os lucros extraordinários de outros – dos principais grupos económicos – que atingem cifras astronómicas.
E, para cúmulo, a conclusão que se tira é que «os aumentos salariais vão aumentar a inflação». E, por isso, é preciso, a todo o custo, evitá-los.
São as receitas do costume do grande capital, ao estilo da raposa a quem é dada a «difícil» tarefa de guardar o galinheiro.
Receitas que os trabalhadores conhecem bem e, por isso, lhes darão a resposta adequada. Desde já, nas lutas que se travam nas empresas e locais de trabalho e, no dia 15 de Outubro, na manifestação nacional em Lisboa e no Porto.