A preparação

Margarida Botelho

Há muitos cursos de pre­pa­ração: para o parto, para exames, para ad­mis­sões a car­reiras di­versas.

An­tónio Costa Silva, mi­nistro da Eco­nomia que se ar­risca a ficar na me­mória so­bre­tudo pelas pi­adas in­vo­lun­tá­rias, de­tectou outra ne­ces­si­dade: cursos de pre­pa­ração para em­presas com lu­cros ex­ces­sivos.

Disse o mi­nistro em en­tre­vista re­cente: «as em­presas não estão pre­pa­radas para a taxa sobre lu­cros ex­ces­sivos.» E acres­centa: «nós temos que ter muito cui­dado com aquilo que fa­zemos na me­câ­nica e na re­lo­jo­aria da eco­nomia porque, se me­xermos ex­ces­si­va­mente, de um lado ar­ris­camos amanhã termos ope­ra­dores em co­lapso e do outro lado os con­su­mi­dores sem serem abas­te­cidos.»

Claro que na «me­câ­nica e na re­lo­jo­aria da eco­nomia» dos tra­ba­lha­dores e das pe­quenas em­presas se pode mexer à von­tade, porque têm imensa pre­pa­ração, re­si­li­ência, cri­a­ti­vi­dade, adap­ta­bi­li­dade e ou­tras vir­tudes que os ges­tores dos grandes grupos eco­nó­micos gabam mas pelos vistos não têm. Todos nos lem­bramos do ban­queiro Ul­rich nos anos do pacto de agressão que à per­gunta sobre se o País aguen­tava mais aus­te­ri­dade res­pondeu «ai aguenta, aguenta».

O ponto de par­tida de Ul­rich e de Costa Silva é o mesmo: os tra­ba­lha­dores, os re­for­mados, as pe­quenas em­presas estão pre­pa­rados e aguentam o que vier, porque estão ha­bi­tu­ados. Os po­bres vivem com pouco, como se sabe. Já as grandes em­presas coi­ta­ditas, pre­cisam de pro­tecção e es­tí­mulo, mesmo que te­nham os tais lu­cros ex­ces­sivos. O me­lhor é não as con­tra­riar de­ma­siado porque das duas, uma: ou co­lapsam, ou deixam de abas­tecer os con­su­mi­dores. E sendo assim mais vale deixar estar como está.

Já se viu este filme muita vez. Os lu­cros destas em­presas são cons­truídos pelo au­mento da ex­plo­ração e pela es­pe­cu­lação. Bem pode o mi­nistro re­ferir-se a eles como re­sul­tado de uma «me­câ­nica e re­lo­jo­aria», que já são muitos os que per­ce­beram que é nestes lu­cros que está o sa­lário que não sobe, a pensão que afinal fica a meio, a fruta que não se compra, a ven­toinha ou o aque­cedor que não se ligam, a renda ou a pres­tação que se atrasam, o pas­seio com os miúdos que fica para me­lhores dias. E são cada vez mais o que se in­dignam, pro­testam e lutam.

 



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