A grande regressão

Luís Carapinha

O imperialismo aposta no belicismo, na confrontação e na guerra

A rejeição da via diplomática e o arrastar da tragédia da guerra na Ucrânia continuam a contribuir para o agravamento do panorama económico no plano internacional. A inflação na Europa (e EUA) bateu máximos de 40 anos. O espectro da recessão assoma nos dois lados do Atlântico. E deverá permanecer nos próximos anos, afirmam as últimas previsões.

Segundo os analistas, a situação é mais grave no Reino Unido e na UE. A Alemanha, em especial, encontra-se no centro da tempestade, sob o efeito boomerang das sanções draconianas impostas à Rússia, particularmente devastador no sector energético e fornecimentos de gás natural. A alternativa do gás liquefeito dos EUA é incomparavelmente mais cara, mais poluente (a crise climática eclipsou-se das preocupações dominantes) e não cobre as necessidades.

Tal loucura é, contudo, um bom negócio para o lobby petrolífero nos EUA (e UE) que nunca esconderam a aversão ao gasoduto Nord Stream 2, prontinho em folha mas inutilizado. Melhor, porventura, só os lucros do complexo militar-industrial, que com o alimentar da guerra na Ucrânia e da estratégia global de confrontação contra a Rússia e a China se redime da retirada militar do Afeganistão, após 20 anos de ocupação. Em prol da prioridade do combate à inflação, Reserva Federal, Banco de Inglaterra e BCE, entre outros, anunciam novos aumentos das taxas de juro. À custa do crescimento da economia e do emprego, manda a cartilha do grande capital.

As consequências de tudo isto estão à vista e vão agravar-se. Com o verão a caminhar para o fim, Macron, o homem da advertência da «morte cerebral da NATO», lança novo aviso SOS: a França enfrenta «sacrifícios» com a «série de crises graves» e o «fim da abundância», perfilando no mundo «uma grande mudança ou uma grande reviravolta».

Macron sabe que vem aí mais carestia, recessão, desemprego e crise social. Mais desigualdades e instabilidade generalizada, o caldo de cultura para a aposta e progressão da extrema-direita e a ameaça neofascista. Ele é um dos actores da política que nos trouxe até este estado. Enfim, é este o preço da liberdade, exultam os colunistas do pensamento dominante, com raras excepções rendido ao integralismo belicista pró-EUA e à falsa narrativa da luta entre «o mundo livre e as potências autocráticas e revisionistas».

Mas não, o estado actual de coisas, agravado com a guerra na Ucrânia, não é o preço da liberdade, mas sim o resultado da subjugação a uma política e campanha insanas, tendo como pano de fundo a crise estrutural capitalista e o declínio da hegemonia dos EUA e países do G7. No fundo, na aposta no belicismo e na via da confrontação e da guerra, mesmo se por ora utilizando terceiros e formas híbridas, visando a Rússia e a China.

Atente-se às declarações recentes da ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Liz Truss, na campanha para a liderança do partido conservador – e do governo inglês –, admitindo que está pronta para carregar no botão da arma nuclear, mesmo que isso signifique «aniquilação global». O general Sanders, novo chefe do Estado-Maior da Grã-Bretanha, já afirmara que o país tem que se preparar para enfrentar a Rússia numa nova guerra na Europa. É o caminho para a catástrofe.




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