Reflicta-se

Ângelo Alves

José Manuel Barata Feyo, provedor do leitor do Público, criticou, num artigo publicado naquele diário, o facto de este não ter noticiado um relatório da Amnistia Internacional que confirma a estratégia ucraniana de usar infra-estruturas civis e zonas residenciais para fins militares e de combate. Afirma Barata Feyo que o Público escamoteou «informações relevantes aos seus leitores, actuando como se fosse um prolongamento da Presidência e do Exército ucranianos ou como se a opinião pública precisasse de filtros paternalistas para formar o seu juízo sobre o que está a acontecer nesta guerra».

A afirmação é justa e podia ser aplicada a muitos outros exemplos e órgãos de comunicação social. As «notícias», «comentários» e análises sobre o conflito na Ucrânia na comunicação social dominante saldam-se numa imposição de um pensamento e opinião únicos, recorrendo-se amiúde ao silenciamento e hostilização de opiniões dissonantes, manipulações, ocultações ou puras mentiras.

Mas a Ucrânia não é caso único. Estudos sobre o comportamento dos média na guerra da Síria indicam que 82% dos conteúdos noticiosos foram alinhados com as posições dos EUA e da NATO (16% neutrais e 2% críticos dos EUA/NATO) e que 78% das notícias que circularam em todo o Mundo sobre aquele conflito tiveram origem num punhado de agências norte-americanas, britânicas, francesas e alemãs, muitas vezes com base em «fontes» não credíveis e, várias vezes, com «notícias» pré «produzidas» por milhares de «especialistas», assalariados do Pentágono ou de outros «serviços» ocidentais, pagos a peso de ouro para controlar e plantar «notícias» por via das principais agências noticiosas – Associated Press, France Press, Reuters, DPA, entre outras.

Saúda-se por isso a clarividência do provedor do leitor do Público. E fica a sugestão: reflicta-se sobre a inaceitável campanha de ingerência e condicionamento que a comunicação social portuguesa, incluindo o canal público de rádio e televisão, estão a realizar em torno das eleições angolanas. Campanha que para lá do que significa de parcialidade não contribuiu para as necessárias relações de amizade e cooperação entre Portugal e Angola.




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