Exploração orquestrada
Lendo e ouvindo o que se vai difundindo, já se percebeu que por aí andam, de pá em riste, aqueles a quem foi atribuído o papel de aplanar o terreno, desde logo nessa árdua tarefa de disseminar a resignação bastante que garanta, sem grandes objecções ou resistências, que se tomem por bons e inevitáveis novos andamentos na partitura de exploração e empobrecimento que os centros de capital, os de cá e os de fora, se preparam para intensificar sobre os trabalhadores e os povos.
Não passará despercebido aos mais atentos a sucessão de projecções, estudos e previsões - emanados dos principais centros e instituições capitalistas - que a propósito do crescimento, da inflação, das taxas de juro, do nervosismo dos «mercados», antecipam e tecem cenários de «crise».
É em seu nome que por cá haja quem se desdobre em repetidos apelos à contenção salarial ou que antecipem, lavados num cínico lamuriar, o que designam de um «brutal» aumento do valor das reformas.
Nesta polifonia dos dominantes, orquestrada sem a menor dissonância, o produto dela resultante é o conhecido. Dê por onde der, e sem desafinações, dirigido a fazer pagar a uma imensa maioria o que assegurará a uns poucos a opulência dos lucros e da acumulação da riqueza. A receita é simples. Em tempos de crise e de «desequilibro» de contas, corta-se em salários, reformas e serviços públicos, em tempos de recuperação mantêm-se cortados, ou contidos, porque é preciso não voltar a desequilibrar as contas e o défice. Na mesma lógica, não se aumenta salários a pretexto de não haver inflação sendo que quando a há também não se aumentam para não favorecer a «espiral inflacionista». Confuso? Longe disso, de uma linearidade imbatível, essa mesma linearidade com que se vê disparar a curva dos lucros dos grupos económicos. Em espiral, esses sim, fazendo prova que também nesta figura geométrica há as boas e as más.