EUA reconhecem envolvimento na organização de golpes de Estado
O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou na segunda-feira, 25, a implicação de altos responsáveis de governos dos Estados Unidos da América na concepção e realização de intervenções e golpes de Estado na América Latina e no mundo.
«O ex-chefe da Agência Central de Inteligência (CIA), James Woolsey, admite que os EUA intervêm e atentam contra a democracia com golpes de Estado», afirmou Morales, na sua conta na rede social Twitter. O chefe do Estado boliviano entre 2006 e 2019 criticou as justificações dos agentes norte-americanos, que usam frases como «uma boa causa» e o «interesse do sistema» capitalista para construir «um discurso de ingerência e propiciar mudanças de governos não afins às suas pretensões hegemónicas no planeta».
Como John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional de Donald Trump, James Woolsey revela que os EUA são o pior inimigo da paz no mundo, acusou Morales, que foi vítima de um golpe de Estado em 2019, o qual – como assegurou em múltiplas ocasiões – foi meticulosamente planeado a partir de Washington.
Recorde-se que, há apenas alguns dias, John Bolton reconheceu publicamente, em entrevista à CNN, que os EUA planificam e levam a cabo golpes de Estado nos países que escolhe. «Como alguém que ajudou a planear golpes de Estado (…) posso dizer que isso requer muito trabalho», sentenciou Bolton no canal televisivo, embora se tenha recusado a falar de casos específicos.
Estas surpreendentes declarações provocaram grande burburinho na imprensa internacional e até o jornal espanhol El País, sempre alinhado com as posições de Washington, escreveu que «se não fosse pela gravidade do assunto, o diálogo [Bolton-CNN] pareceria extraído de um guião de Hollywood clássico».
Por outro lado, o jornalista José Llhamos, correspondente do jornal Granma em Caracas, comentou que as revelações públicas de Bolton, organizador confesso de tentativas de golpe de Estado contra Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, confirmam que as ambições geopolíticas do seu país deitam a mão a qualquer recurso: «Não que a sua diatribe tenha revelado um segredo. No fim de contas, sabe-se – cada tentativa golpista contra governos indóceis, em qualquer latitude do planeta, tem oculta a mão criminosa dos EUA. O atípico deste caso é que alguém, com o cargo que chegou a ostentar este personagem no anterior governo do seu país, admita publicamente ter participado em tentativas de interromper, em outros países, projectos sociais e lideranças não afins aos interesses das elites yankees».
O caso chegou à Assembleia Nacional venezuelana, que repudiou as manobras golpistas admitidas por John Bolton e também por Carrie Filipetti, ex-subsecretária de Estado norte-americana para Venezuela e Cuba. Um e outra admitiram que «houve reiteradas intenções de agredir a Venezuela», por parte dos EUA.