Vales alimentares e outros mimos
Ainda o Congresso não tinha terminado e o novo presidente do PSD, Luís Montenegro (LM), no discurso de encerramento, tornava público o que lhe vai na mente, insistindo nas velhas concepções reaccionárias e retrógradas, de que o seu partido é exímio defensor.
Entre outras pérolas da política de direita lá estava a velha lengalenga da carga fiscal que promete aliviar (ao grande capital, é claro), o ataque ao SNS, defendendo que os utentes, sobretudo os de mais baixos rendimentos, possam utilizar o setor privado e social quando o Estado não consegue dar resposta, prometendo fazer tudo para reformar, reestruturar e reorganizar o SNS (que é o mesmo que dizer, para o Estado nunca possa cumprir essa função social).
E estava ainda a sua concepção sobre a pobreza e os meios para lhe atenuar alguns efeitos, obviamente, sem pôr em causa o fenómeno que a gera, ou seja, a exploração. «Defendemos – afirmou – a criação desde já de um Programa de Emergência Social que aproveite o excedente criado pela repercussão da inflação na cobrança dos impostos e inclua medidas como um vale alimentar mensal às famílias de mais baixos rendimentos.»
LM sabe bem que à pobreza e à fome se responde com o aumento dos salários e das pensões, com a regulação dos preços, com a defesa da produção nacional, com o emprego com direitos, com o desenvolvimento e a soberania nacionais.
LM sabe tudo isto, mas a sua opção (que é a mesma do partido a que preside) é pela política de direita, ou seja, pelo aprofundamento da exploração ao serviço do capital monopolista, pelo empobrecimento e declínio nacional. Como, aliás, tão evidente se mostrou no período do governo PSD/CDS de Passos Coelho/Paulo Portas, quando Luis Montenegro era o presidente do grupo parlamentar do PSD na Assembleia da República.
Afinal, mutatis mutandis, nem Luis Montenegro e o PSD a que passou a presidir perderam a sua natureza de classe nem o grande capital se enganou ao promover a escolha do novo presidente.