Com a luta dos trabalhadores

Ricardo Costa (Membro da Comissão Política)

A luta dos tra­ba­lha­dores tem sido uma grande res­posta a uma si­tu­ação in­sus­ten­tável. Ao longo dos úl­timos meses, a si­tu­ação so­cial e eco­nó­mica tem tido um apro­fun­da­mento de sen­tido ne­ga­tivo para quem se «go­verna» com o pouco que lhe sobra do sa­lário de­pois de pagar as contas.

A pro­posta de al­te­ração da le­gis­lação la­boral acentua a des­va­lo­ri­zação do tra­balho

Se, por um lado, o au­mento do custo de vida se tem feito sentir de forma sig­ni­fi­ca­tiva na vida dos tra­ba­lha­dores e do povo com contas cada vez mais «gordas», também é ver­dade que os prin­ci­pais grupos eco­nó­micos têm visto mais «gordos» os seus lu­cros.

Os tra­ba­lha­dores de­mons­tram não estar dis­po­ní­veis para aceitar as im­pos­si­bi­li­dades para o au­mento dos seus sa­lá­rios anun­ci­adas por Go­verno e pa­trões. O Go­verno do PS apregoa o papão da crise e das san­ções para jus­ti­ficar o in­jus­ti­fi­cável, e os pa­trões re­petem a mesma con­versa sobre a «com­pe­ti­ti­vi­dade», «pro­du­ti­vi­dade» e agora o «quadro eco­nó­mico in­ter­na­ci­onal», pro­cu­rando uns e ou­tros criar as con­di­ções para pros­se­guir e apro­fundar a po­lí­tica de ex­plo­ração.

Os tra­ba­lha­dores dizem Não!.

Não aceitam con­ti­nuar a ter os baixos sa­lá­rios, não aceitam ter as suas car­reiras es­tag­nadas, não aceitam a des­re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho. Re­cusam a pre­ca­ri­e­dade. Querem e exigem uma res­posta às suas rei­vin­di­ca­ções. Assim acon­teceu du­rante o úl­timo mês, com muitas ac­ções de luta nos lo­cais de tra­balho, greves e pa­ra­li­sa­ções, con­cen­tra­ções, ple­ná­rios. Luta que traz sempre re­sul­tados po­si­tivos, luta que se faz com a força de quem tra­balha.

Será ne­ces­sário pros­se­guir a luta em torno das rei­vin­di­ca­ções con­cretas, mas também de com­bate a mais uma re­visão da le­gis­lação la­boral que o Go­verno do PS, com o apoio dos res­tantes par­tidos da po­lí­tica de di­reita, quer levar por di­ante.

Go­verno e pa­trões acen­tuam ex­plo­ração

A pro­posta de re­visão da le­gis­lação la­boral em curso acentua o ca­minho de des­va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores. O Go­verno não re­voga a norma da ca­du­ci­dade das con­ven­ções co­lec­tivas, não repõe o prin­cípio do tra­ta­mento mais fa­vo­rável ao tra­ba­lhador e assim es­can­cara as portas aos pa­trões para des­truírem di­reitos há muitos anos con­quis­tados, con­di­ciona o au­mento dos sa­lá­rios e de­se­qui­libra a ba­lança a favor do Ca­pital. Po­tencia a re­dução dos di­reitos, seja pela im­po­sição pa­tronal ou pelo di­vi­si­o­nismo sin­dical que se ajeita sempre à von­tade do pa­trão.

O que ve­ri­fi­camos hoje, na nossa in­ter­venção, é a com­pre­ensão de largas massas da po­pu­lação sobre a ne­ces­si­dade do au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões para fazer face ao au­mento brutal do custo de vida. O que sa­bemos é que mi­lhares de tra­ba­lha­dores, tra­ba­lhando todos os dias, con­ti­nuam a em­po­brecer, porque os baixos sa­lá­rios são uma re­a­li­dade cada vez maior.

Assim o de­mons­tram os nú­meros: mais de um quarto (26%) dos tra­ba­lha­dores do sector pri­vado re­cebe o Sa­lário Mí­nimo Na­ci­onal, mais de 2,1 mi­lhões de tra­ba­lha­dores re­cebem re­mu­ne­ra­ções base iguais ou in­fe­ri­ores a 800 euros (57% do total de tra­ba­lha­dores) e, se alar­garmos até aos 1000 euros, são 2,7 mi­lhões (72,5% do total de tra­ba­lha­dores). Os nú­meros in­dicam-nos também que houve um au­mento de 14% dos tra­ba­lha­dores na po­breza entre 2019 e 2020. Quanto aos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica per­ma­nece a re­dução do seu poder de compra por não existir um au­mento real dos seus sa­lá­rios, com o go­verno a aplicar 0,9% de ac­tu­a­li­zação.

Soma-se a esta re­a­li­dade a pre­ca­ri­e­dade cres­cente, fruto de uma po­lí­tica que di­a­bo­liza o vín­culo efec­tivo, que per­mite a con­tra­tação a prazo, o pe­ríodo ex­pe­ri­mental de 180 dias, o re­curso a em­presas de tra­balho tem­po­rário ou de alu­guer de mão-de-obra. No pri­meiro tri­mestre de 2022, 70% dos postos de tra­balho cri­ados têm vín­culos pre­cá­rios. Im­porta ainda afirmar que um tra­ba­lhador com vín­culo pre­cário re­cebe em média menos 40% que um tra­ba­lhador com vín­culo efec­tivo. As pro­postas em dis­cussão de al­te­ração da le­gis­lação la­boral apre­sen­tadas pelo go­verno PS, não só não re­solvem este fla­gelo, como o le­gi­timam, le­ga­lizam e po­ten­ciam. É ur­gente travar este rumo de in­cer­teza diária na vida de quem tra­balha, ga­ran­tindo que a um posto de tra­balho per­ma­nente cor­res­ponda um vín­culo de tra­balho efec­tivo.

Di­reitos ina­li­e­ná­veis

Quando a favor do au­mento da pro­du­ti­vi­dade e com­pe­ti­ti­vi­dade go­verno e pa­trões apre­goam a fle­xi­bi­li­dade na or­ga­ni­zação do tempo de tra­balho, es­condem a re­a­li­dade hoje exis­tente: perto de 1 mi­lhão e 800 mil tra­ba­lha­dores tra­ba­lham por turnos, à noite, ao sá­bado ou do­mingo, ou até com­bi­nando estas di­versas re­a­li­dades. O que se impõe é a re­dução do tempo de tra­balho para as 35 horas sem re­dução de sa­lário e a pos­si­bi­li­dade de con­ci­li­ação da vida pes­soal com a vida fa­mi­liar.

A somar aos baixos sa­lá­rios, à pre­ca­ri­e­dade e às múl­ti­plas formas de re­pressão e chan­tagem que os pa­trões exercem sobre os tra­ba­lha­dores no local de tra­balho, vem agora o go­verno com a al­te­ração da le­gis­lação la­boral, em vez de cla­ri­ficar, para fa­ci­litar o exer­cício pleno do di­reito de ac­ti­vi­dade sin­dical, pro­curar in­tro­duzir mais con­tra­di­ções e con­fu­sões que fa­ci­litam a a acção pa­tronal para li­mitar esse di­reito con­sa­grado na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, di­reito ina­li­e­nável dos tra­ba­lha­dores.

São muitas as ra­zões para pros­se­guir a luta! Os tra­ba­lha­dores podem contar com o PCP!



Mais artigos de: Opinião

Vales alimentares e outros mimos

Ainda o Congresso não tinha terminado e o novo presidente do PSD, Luís Montenegro (LM), no discurso de encerramento, tornava público o que lhe vai na mente, insistindo nas velhas concepções reaccionárias e retrógradas, de que o seu partido é exímio defensor. Entre outras pérolas da política de direita lá estava a velha...

Imperialismo vs. multilateralismo

O mês de Junho foi pródigo em encontros, cimeiras e afins de organizações internacionais. Umas mais formais, outras menos. Umas mais mediatizadas e outras menos. Todas elas determinantes naquilo que se está a desenhar no processo de rearrumação de forças no plano mundial. Após a cimeira do G7, a Cimeira da NATO...

A mentira

Desculpar-nos-à o leitor por voltarmos à Cimeira da NATO, passada que está já uma semana sobre a sua conclusão. Fazemo-lo não para analisar resultados e antecipar consequências, mas tão só para desmontar aquela que é uma mentira com mais de sete décadas, apregoada em força nos últimos meses: a que afirma que a existência...

Os Ultras

«Nós não somos socialistas, nem somos ultra-liberais», foi com esta afirmação, mais ou menos literal, que, no seu 40.º Congresso, o novo líder do PSD decidiu deixar à criatividade de quem quiser a identificação ideológica, nesta fase da sua vida, destes representantes políticos do grande capital. Estivemos atentos para...

Lisboa, praça financeira do mar

Numa entrevista ao DN há cerca de um mês, recheada de promessas de milhões e de palavras em inglês para impressionar os simples – players, greenshipping, task-force, hubs azuis, cluster do mar, start up –, António Costa e Silva, ministro da Economia e do Mar, usou a expressão que deve ter encantado os colegas do Governo:...