Quem são os responsáveis?

Manuel Rodrigues

Discursando para os jovens participantes na sessão de encerramento do Fórum da Juventude e Inovação da Conferência dos Oceanos da ONU 2022 (UNOC - United Nations Ocean Conference), que decorreu na praia de Carcavelos (concelho de Cascais), nos 27 e 28 de Junho, o Secretário-geral da ONU, a dado passo, afirmou: «Eu quero pedir desculpa, em nome da minha geração, à vossa geração, relativamente ao estado do oceano, ao estado da biodiversidade e ao estado das alterações climáticas».

Ora, na verdade o problema, que é sério, não se pode equacionar desta forma simplista atribuindo culpas a uma geração inteira pelo grave problema da poluição dos oceanos, pela ataque à biodiversidade, pelo estado. É preciso que se aponte o dedo aos verdadeiros responsáveis pela predacção da natureza e por estes e muitos outros crimes contra a vida e contra a humanidade, ou seja, o capital monopolista que, em nome dos seus supremos interesses, abate florestas (veja-se o caso da Amazónia ou mesmo, entre nós, as políticas de que têm levado à desertificação do interior, abandono da agricultura e desproteccção das florestas), polui rios e oceanos, contamina a atmosfera, destrói habitats naturais formados ao longo de milhões de anos, levando à extinção de milhares de espécies, e à drástica redução da biodiversidade.

O problema não é, de facto, um problema de gerações, mas sim do modo de produção, ou seja, de um sistema – o capitalismo – que está na origem da exploração, desigualdades, injustiças e guerras que marcam o nosso tempo.

O mundo não está propriamente dividido entre gerações passadas, presentes ou futuras, mas sim entre exploradores e explorados. E é no lado dos exploradores que é preciso ver a raiz do problema. E não mascará-lo com moralistas pedidos de desculpa.

Pelos crimes contra o ambiente (entre tantos outros), é o capitalismo que é preciso sentar no banco dos réus. E julgá-lo, condená-lo e substituí-lo pelo socialismo. Ou seja, acabar com a exploração do homem pelo homem. E, consequentemente, acabar-se-á com a destruição da natureza.




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