«Caso Assange», paradigma imperialista

Carlos Gonçalves

O Juíz Pedraz da Audiência Nacional de Espanha solicitou aos USA autorização para ouvir o ex-director da CIA (e ex-Secretário de Estado) Mike Pompeo e o ex-director do Centro Nacional de Contra-Inteligência, William Evanina, no âmbito da investigação a um plano para sequestrar e liquidar Julian Assange (JA). O silêncio dos média sobre os factos pesa tanto como a não resposta dos USA à Justiça de Madrid.

Os figurões foram indiciados pela audição da firma que forneceu o sistema de vigilância da Embaixada do Equador em Londres, onde JA esteve refugiado, e pela suspeita de que a CIA pirateou o equipamento para espiar o fundador do site Wikileaks, aliás Evanina afirmou que os USA acederam às câmaras, gravações, etc..

Vai-se assim conhecendo a dimensão e perversidade da perseguição a JA, desde 2010, quando a Wikileaks em «luta pela liberdade de informação» revelou provas de centenas de crimes de guerra dos USA no Iraque e Afeganistão, o manual do «tratamento de prisioneiros» em Guantânamo, a espionagem de embaixadas USA, depois os emails das sujeiras de Hillary Clinton, etc..

A operação USA para prender JA, perseguir os activistas Wikileaks, como Manning – na prisão por trinta e cinco anos –, e liquidar o site «inimigo» avançou em 2010: a Suécia emitiu um mandato internacional para prender JA, acusado de estupro (a uma agente da CIA), o objectivo era a extradição para os USA. Por isso, JA entregou-se à polícia do Reino Unido (UK), mas em 2012 viu-se obrigado a pedir asilo político na embaixada do Equador em Londres, onde ficou até 2019. Ano em que as autoridades suecas deixaram cair a falsa acusação, mas a polícia UK prendeu-o para decisão da extradição. Desde então JA lutou contra a extradição que visa um julgamento por crimes que «somam» cento e setenta e cinco anos de prisão.

Em Abril de 2022, o Tribunal decidiu pela extradição de JA, mas falta a consumação. E a verdade é que este é um mau «momento» para chamar a atenção de perversidades da guerra dos USA/NATO e do «pensamento único». Ou será que o Wikileaks ameaça com novas revelações?

A operação brutal contra JA, envolvendo muitos países, mentiras, ameaças e crimes, fazem do «caso Assange» um paradigma do imperialismo e da sua natureza opressora. A luta continua!




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