Quem sai aos seus...
O recente massacre numa escola primária em Uvale, no Texas, dificilmente deixará alguém indiferente. A natureza do crime e os elementos que o rodearam e tornaram possível deviam ser razão bastante para o condenar.
O choque que a notícia em si encerra, pelo que constitui de violência gratuita, bem podia prescindir daquele cortejo de afirmações nas margens da pura hipocrisia que altos responsáveis da administração norte-americana, a começar pelos seus presidente e vice-presidente, vieram a terreiro proferir. Ouvir Biden revelar surpresa, interrogar-se em busca de respostas óbvias, perguntar não se sabe bem a quem por que razão só nos EUA se sucedem com aquela dimensão e frequência massacres desta natureza, só pode ser encarado com estupefação.
Bem se podia dispensar a encenada incredulidade e pungente lamuriar por parte de quem, como ninguém, conhece o caldo em que medra a violência. Num país onde as armas são o denominador comum do dia-a-dia, em que a sua venda é promovida como se de um produto cosmético se tratasse, em que a sua posse e uso é estimulado e guindado a expressão de conduta e relacionamento social, facilmente se alcança a resposta para as encenadas interrogações de Biden. Ainda que se perceba o alcance do que pretende no plano da disputa interna, soa a falso esta narrativa de aparente confronto entre democratas e republicanos, distribuindo culpas ente si, lavando responsabilidades pelo que se tornou prática corrente nesse semeio de violência e massacres que os EUA vão espalhando pelo mundo.
Em boa verdade, aquilo que uns (os democratas) acusam outros (os republicanos) de estimular internamente, exercitam estes com idêntico, se não maior, denodo para lá das fronteiras. Como se costuma dizer, o hábito faz o monge, pelo que não se vê razões para se lamentarem.