Exigência de travar a guerra e a corrida aos armamentos em Concerto pela Paz

A solução não é a guerra, é a paz. E para isso é também necessário travar a corrida aos armamentos. Esta foi uma ideia forte que perpassou o Concerto pela Paz, realizado no sábado, 21, em Lisboa, onde ressoou forte a exigência de «paz sim, guerra não».

Pela Paz, todos não somos demais

Num imenso coro colectivo composto pelas muitas centenas de pessoas que estiveram no Fórum Lisboa, essa foi, aliás, a palavra de ordem que irrompeu na sala no final do espectáculo e levou Jorge Palma, que acabara de actuar, a regressar ao piano para interpretar de forma magistral uma canção que nos falou da superior força do amor.

Uma belíssima maneira de fechar esta iniciativa em defesa da «cultura da paz, em alternativa à cultura da guerra que nos tentam impor», como salientou Ilda Figueiredo, presidente do CPPC – Conselho Português para a Paz e Copperação, entidade que a promoveu. Ao longo de cerca de duas horas o que ali se viveu e partilhou foram momentos musicais de grande intensidade e emoção, assegurados pelas excelentes actuações, para além do autor de Bairro do Amor, do Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música, acompanhado ao piano por Leonor Cardoso, e sob direcção do maestro Alexandre Weffort, do Grupo Cantares e Adufes da Voz do Operário, com Sebastião Antunes, e dos músicos e cantores Jorge Rivotti, Rui Galveias e Sofia Lisboa.

Ouviram-se interpretações de obras dos grandes poetas, de Sophia de Mello Breyner Andresen a Pablo Neruda, de Carlos Oliveira a Armindo Rodrigues ou a Antunes da Silva. E temas de grandes compositores, como Lopes Graça, que - essa foi a convicção expressa pelo maestro que hoje dirige o coro que tem o nome do criador de as Heróicas -, «estaria neste combate através da sua música, pela paz».

A poesia, aliás, esteve presente ao longo de todo o concerto pela voz da sua apresentadora, Matilde Lima, que a ela recorreu como elemento de ligação entre as actuações de dos artistas convidados.

Mobilizar vontades
Mas se a qualidade e entrega dos artistas foi um elemento chave para o êxito da iniciativa, não o foi menos para que esse desfecho tivesse sido possível o elevado número de pessoas que acorreu àquela sala da capital e, sobretudo, a determinação com que afirmaram o seu empenho na luta em defesa da paz e contra a guerra.

Afirmação de vontade que tinha sido já, de resto, observado nos cinco concertos anteriores promovidos pelo CPPC. Todos tiveram o apoio das respectivas autarquias onde se realizaram, casos de Viana do Castelo, Matosinhos, Gondomar e Vila Nova de Gaia, à excepção do Porto, devido, recorde-se, à retirada à última da hora do apoio ao concerto por parte do presidente, Rui Moreira. Interditou o acesso ao Rivoli, mas não conseguiu impedir que este se realizasse no exterior junto àquele teatro da cidade – com enorme êxito, diga-se –, como tratou de lembrar a presidente do CPPC, sublinhando que a sua concretização constituiu uma grande manifestação de «luta pela liberdade, pela democracia, pela paz».

Ilda Figueiredo, que falava no início do Concerto pela Paz, depois de agradecer em nome do CPPC a presença do público, dos activistas pela paz, dos artistas, e de outras entidades que o tornaram possível, designadamente a CM de Lisboa, o Fórum Lisboa e a sua direcção e trabalhadores, destacou a importância do mesmo, relevando o facto de ele se realizar num «momento grave» e em que é preciso «garantir a paz, a segurança, a cooperação, a justiça, os direitos dos povos», princípios do direito internacional conformes com a Carta da ONU, que constam da Acta Final da Conferência de Helsínquia, e que é «fundamental cumprir».

Prosseguir a luta
Daí a importância dada por si a este concerto, bem como às iniciativas que estão em preparação, designadamente os desfiles pela paz agendados para os próximos dias 25 e 29 de Junho, em Lisboa e Porto, respectivamente (ver caixa).

E por isso o apelo que fez ao envolvimento de todos nestas duas jornadas a favor da paz e contra a guerra, assim como à participação no debate que sobre o tema vai realizar-se a 15 de Junho, na Casa do Alentejo, em Lisboa. De novo a partir do palco, já perto do fechar do pano, Ilda Figueiredo não escondeu a sua satisfação pelo «belíssimo concerto» a que todos acabáramos de assistir, considerando-o uma «forma magnífica» de concluir o ciclo de iniciativas realizadas a favor da paz e contra a guerra. E voltou a formular o convite: «Vamos todos trabalhar para as manifestações de Lisboa e Porto, com as organizações, os artistas, as colectividades, os trabalhadores – que também estão a ser ameaçados por estas guerras -, vamos continuar a lutar pela paz, a defender a paz. Pela paz, todos não somos demais!»

 

Acções pela paz em Lisboa e Porto

Para 25 de Junho, em Lisboa (15h00 na Rotunda do Marquês de Pombal), e 29, no Porto (18h00, na Cordoaria) estão marcados dois desfiles pela paz, contra a guerra e a corrida aos armamentos. Anunciadas há pouco mais de uma semana, as iniciativas são convocadas por um conjunto de personalidades subscritoras de um Apelo, que defendem «os princípios do direito internacional, conformes com a Carta da ONU e os constantes na Acta Final da Conferência de Helsínquia». É este, garante, o caminho «para garantir a paz, a segurança, a cooperação, a justiça, os direitos dos povos».

Assumindo naturais diferenças de opinião sobre os desenvolvimentos no plano internacional, estão unidos na «condenação da guerra, na profunda preocupação com o agravamento da situação mundial e os sérios perigos para a Humanidade que dele decorrem». O aumento das despesas militares, a corrida aos armamentos, a produção de armas mais sofisticadas (incluindo nucleares), a instalação de bases militares em países terceiros representam inquietantes ameaças.

No apelo defende-se ainda o empenho da diplomacia para a solução política dos conflitos e rejeita-se a ingerência, destabilização, bloqueios, sanções, invasões e ocupações militares, guerra e ameaça do uso da força.

Recordando o fascismo e a Revolução de Abril, os subscritores do Apelo realçam os princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa, especialmente no seu artigo 7.º. É com base neles que as autoridades portuguesas não devem contribuir para a escalada de confrontação e de guerra, mas para a criação de condições de diálogo que garantam o estabelecimento de um clima de confiança que permita a criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.

 



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